
Humor, formação artística profissional, sistematização de conhecimento e administração com captação de recursos eficiente. Essa é a receita do Doutores da Alegria, uma organização da sociedade civil criada no Brasil pelo ator e palhaço Wellington Nogueira, há 17 anos, com o intuito de disseminar alegria em lugares não-convencionais.
Após nove anos de trabalho como ator em Nova Iorque, onde integrava o Clown Care Unit, lançado em 1986 pelo ator Michael Christense, Wellington Nogueira retornou ao Brasil com o sonho de desenvolver um trabalho semelhante no país. “E realmente parecia somente um sonho. Seria preciso criar toda uma infra-estrutura, contratar e treinar atores e obter apoio financeiro. Sem contar com o fato de que colocar um palhaço em um hospital brasileiro era algo completamente novo. Foi nessa hora que eu, transformado em Dr. Zinho, usei um tratamento infalível contra o desânimo: doses cavalares de bom humor, algumas injeções de ânimo e persistência para esperar os resultados. Os primeiros exames revelaram uma súbita melhora: pessoas certas foram sendo colocadas nos lugares certos, nas horas certas”, lembra.
E o resultado não poderia ser melhor. A instituição conta hoje com 58 artistas profissionais, que atuam em 19 hospitais instalados em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, numa média de 50 mil visitas por ano. “Os Doutores da Alegria têm um compromisso com a qualidade e a regularidade. O trabalho acontece duas vezes por semana em cada hospital parceiro e não têm qualquer custo para a unidade de saúde ou para os pacientes e suas famílias”, destaca Wellington.
Desde a criação da instituição, os palhaços já visitaram mais de 550 mil crianças e adolescentes hospitalizados, atingindo também cerca de 600 familiares e envolvendo mais de 13 mil profissionais de saúde. Hoje, a organização conta com uma equipe de 21 funcionários e colaboradores nas áreas de pesquisa, formação, gestão, administração e mobilização e, dos 58 participantes, 11 atuam também na gestão da ONG.
Todos os artistas e os profissionais que trabalham nos bastidores são remunerados por meio de recursos provenientes de patrocínio, doações, eventos, publicações, palestras e espetáculos. “O trabalho artístico não é voluntário porque se trata de uma escolha. Quando comecei essa atividade no Brasil decidi que o trabalho deveria ser realizado por pessoas cujo ofício fosse o teatro, o circo, ou seja, artistas profissionais. No meu entender, a qualidade artística num palco ou num quarto de hospital deve ser a mesma”, explica.
Filiada à Clown Care Unit do Big Apple Circus, a ONG já figurou a lista das 100 melhores práticas globais entre 1998 e 2000, pelo Prêmio Dubai, outorgado pela Divisão Habitat da Organização das Nações Unidades (ONU) e conquistou outros 18 importantes prêmios nacionais, entre eles o USP de Direitos Humanos e o Criança, da Fundação Abrinq.
Celeiro da alegria
O trabalho desenvolvido pelos Doutores da Alegria é pautado dentro de uma proposta desafiadora: contagiar as pessoas hospitalizadas com humor, até que elas não saibam mais como ficar tristes. E, seguindo esse princípio, a equipe pretende expandir o trabalho para capitais e outras grandes cidades nas quais existam hospitais de referência que atendam um grande número de crianças. “Mas essa iniciativa depende de novos parceiros nessas localidades para ser viabilizado, pois nossos recursos não crescem proporcionalmente ao aumento da demanda”, pontua Wellington Nogueira.
Dentro do projeto de expansão, a instituição implantou no ano passado as atividades em dois hospitais no Rio de Janeiro (Hospital Geral do Bonsucesso e Hospital Pedro Ernesto da UERJ), na ala de queimados do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e na Santa Casa de Belo Horizonte. “Este ano, em fevereiro, expandimos o trabalho para o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerias e a expectativa é levar nossas atividades para mais um hospital no Recife e um no Rio de Janeiro”, conta.
Pioneira na introdução do teatro em um quarto de hospital, a instituição é mantida pelo apoio de empresas e pessoas físicas na forma de patrocínio, parceria e associação.
Doutores da Alegria – Tel.: (11) 3824-4200 / 3061-5523
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