
A professora Maria Braga Moreira provou na prática que é possível levar cidadania aos lugares de mais difícil acesso. Em 2003, ela implantou uma sala de aula numa unidade prisional de Fortaleza, contrariando a opinião da população da cidade e dos próprios agentes de polícia que trabalhavam no local. “Todos diziam que eu deveria fazer outro trabalho social. Que os presos não mereciam essa atenção e que o projeto não traria resultados”, lembra.
Erraram todos. Até o ano passado, mais de 200 detentos passaram pela classe escolar implantada pela professora, que é formada em Geografia. Em 2006, seis concluíram o ensino fundamental e quatro o ensino médio, além de um ter tirado o primeiro lugar nas Olimpíadas de Matemática das Escolas Públicas de Fortaleza e de outro alcançar o primeiro lugar num concurso de Redação em 2004.
Sem contar com a ajuda de parceiros, ela investiu recursos próprios para levar para dentro da unidade carcerária o ensino básico, cursos profissionalizantes, palestras diversas, entre outros benefícios. “Quando cheguei lá, não havia nenhum tipo de trabalho sendo feito. Os presos só tinham contato com os policias e familiares. Não existia assistente social, grupo religioso, nada. Por conta desse abandono, muitos não confiaram em mim no início. Acharam que eu também era da polícia. Foi preciso ganhar a confiança”, conta.
Os resultados apareceram aos poucos, e, segundo ela, de forma gradativa. “O primeiro sinal que me mostrou que eu estava no caminho certo, foi quando vi que começou a existir dentro da prisão um clima de vizinhança. Os presos passaram a trocar objetos de higiene, alimentos e informação. Foi uma mudança importante demais. Eles passaram a se respeitar”, explica.
Dentro desse cenário, foi possível implantar oficinas profissionalizantes, aulas de esportes, festas comemorativas e o desenvolvimento do projeto “Artesanato Libertador”, que consiste na fabricação e venda de objetos artesanais, o que gera renda para os detentos e suas famílias. “A comercialização desses materiais já ocorre até em outros estados, como São Paulo”, revela.
Outra frente de trabalho apontada pela professora como fundamental para os resultados obtidos ao longo desses cinco anos, é o contato com as famílias dos detentos. Essa iniciativa envolve visitas, aconselhamentos e ajuda no acompanhamento dos processos jurídicos. “Na minha avaliação, a família é a célula da sociedade. E consegui durante esse período o respeito e a confiança delas também. Os que moram em outras cidades até almoçam ou dormem na minha casa nos dias de visita”, conta.
Batizado de “Pássaro Livre” pelos próprios presos, o trabalho social desenvolvido por Maria Braga rendeu a ela, o Prêmio Mabe Mulher Cidadã 2008, que homenageou cinco mulheres de todo país que desempenham ações exemplares de cidadania. “É muito bom poder ajudar alguém. Eu ensinei, mas também aprendi muito. E agora esse trabalho foi reconhecido”, avalia. O prêmio é promovido pela Mabe, empresa que controla no Brasil as marcas de eletrodomésticos GE e Dako.
A partir deste ano, Maria Braga Moreira não irá mais atuar como professora na unidade prisional e se dedicará exclusivamente para a parte social. “Farei esse trabalho com muito prazer, pois é uma forma de diminuir a dor e o sofrimento de pessoas que apesar de terem cometido delitos, não perderam a condição de humanos. E dessa forma estarei contribuindo para a inclusão social de cada um, pois mais tarde o encontro com a sociedade não será tão penoso e, de certa forma, estarei exercitando a prática da cidadania”, completa.
Tel.: (85) 8808-4270
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