Maria Barbosa da Silva

Mais de 300 crianças e adolescentes carentes da cidade de Escada, em Pernambuco, preencheram o espaço em branco destinado ao nome do pai em suas certidões de nascimento. A ação é resultado do projeto “DNA Já!!! Não Posso Esperar”, desenvolvido pela professora Maria Barbosa da Silva, vencedora do Prêmio Mabe Mulher Cidadã 2008, que homenageou cinco mulheres de todo país que fazem ações exemplares de cidadania.

O projeto nasceu em 2001, após Maria Barbosa intervir numa briga entre dois meninos durante uma aula de educação física. Ao investigar o motivo da discussão, ela descobriu que o agressor tinha sido chamado de “filho da p…” por um colega que sabia que ele não tinha pai. “Fiquei estarrecida com tamanha dor evidenciada no olhar daquele que não era reconhecido pelo pai. Vi que tinha que fazer alguma coisa, pois a dor moral de não ser reconhecido pelo próprio pai poderia levar às piores conseqüências”, lembra.

Mas resolver esse caso específico não era o bastante. Para Maria Barbosa, era preciso banir todas as certidões de nascimento dos jovens da cidade que não tinham o reconhecimento paterno. “Eu, enquanto profissional do ensino, não posso cruzar os braços diante de tamanha injustiça perpetrada pelo próprio pai e o direito de conhecer sua origem é reconhecido constitucionalmente”, destaca.

Com esse intuito, Maria Barbosa fundou o “DNA Já!!! Não Posso Esperar”, cujo trabalho consiste em encontrar pais fujões e estabelecer um laço biológico e afetivo entre eles e os seus filhos. Para o concílio, o primeiro passo é conversar com a mãe do menor e, em seguida, localizar o suposto pai. “Numa conversa amigável acabamos no cartório do Registro Civil para o reconhecimento espontâneo ou no laboratório para o exame pericial de DNA (quando o suposto pai apontado tem dúvida da paternidade)”, explica.

Reconhecida pelo Poder Judiciário local e também nas cidades circunvizinhas, a iniciativa conta com a parceira do Laboratório de Genética Humana da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do laboratório Biocod de Minas Gerais. Para arrecadar fundos, o projeto promove eventos como bazares e recebe, ainda, doações de pessoas simpatizantes da causa. “Nesses sete anos tenho muitos motivos para comemorar. É uma alegria imensa ver um sorriso de felicidade plena no olhar de uma criança que diz: eu tenho pai!”, conta emocionada.

Como vencedor do “Mabe Mulher Cidadã”, o projeto será difundido pelo país e poderá ser replicado em outros municípios. “Com esse reconhecimento, senti que não estou sozinha para realizar meu sonho. Existem empresas que não pensam apenas no lucro, mas sabem que podem ajudar a realizar sonhos de cidadania plena” destaca. O prêmio é promovido pela Mabe, empresa que controla no Brasil as marcas de eletrodomésticos GE e Dako.

Para 2008, a meta do projeto é erradicar todas as certidões de nascimento dos alunos das escolas públicas de Escada que não tiverem o reconhecimento paterno. “Precisamos sonhar bastante e confiar que tudo que é pensável é realizável. Eu sonho em ver todos com suas certidões de nascimento com a paternidade reconhecida e acredito que chegarei lá. Olha que já fiz mais de 300. Isso é um bom começo. Não acha?”.

Também nessa Edição :
Entrevista: Vanderley M. John e Paola Figueiredo
Artigo: O desafio de divulgar temáticas sociais
Notícia: O que deu na mídia (edição 53)
Notícia: Mulher Cidadã
Notícia: Portas abertas para o mercado de trabalho
Notícia: Desenvolvimento sustentável nos canteiros de obras do DF
Oferta de Trabalho: Procura-se (05/2008)