
Sacolas plásticas: a vilão da poluição
Empreendedores vêem a substituição do produto uma boa oportunidade de negócios
Sinônimo de praticidade na vida diária, o uso exagerado da sacolinha plástica é considerado um dos vilões quando o assunto é preservação ambiental. Além de ser feito com resina virgem, derivado de petróleo, cuja queima é uma das grandes responsáveis pelo aquecimento global, o plástico leva, em média 400 anos para se decompor. Somente no estado de São Paulo, as sacolinhas representam 40% das embalagens jogadas no lixo e de 15 a 20% do volume do lixão é formado por elas. “Estamos vivendo a era da ‘plasticomania’, em função do nosso nível de conforto, sem pensar como é feito e para onde ele vai”, destaca a coordenadora de Capacitação Comunitária do Instituto Akatu, Raquel Diniz.
O descarte do material plástico de forma incorreta traz prejuízos diversos ao meio ambiente. “Os sacos plásticos impedem a passagem de água, retardam a decomposição de materiais biodegradáveis e quando jogados no mar contaminam os peixes. Sem falar que muitos são jogados a céu aberto e vão parar em bueiros, gerando enchentes”, alerta a coordenadora. Diante desse grave problema ambiental, alguns países já adotaram políticas drásticas, como a Irlanda, que colocou um imposto de 15% sobre os sacos plásticos. Na Inglaterra, o primeiro-ministro, Gordon Brown, anunciou recentemente que quer bani-los.
No Brasil, o assunto ainda é polêmico, mas já existem iniciativas isoladas que envolvem um pouco de tud há sacolas recicladas, biodegradáveis e retornáveis, que podem aposentar de vez as sacolas plásticas. “A onda retornável está começando a pegar no Brasil. As campanhas ainda estão focadas nas classes A e B, mas é um movimento crescente”, pontua Raquel Diniz.
O Pão de Açúcar, por exemplo, lançou em 2005 uma sacola retornável, fabricada em TNT (sigla para “tecido não-tecido”), que desde seu lançamento já registra 90 mil exemplares vendidos. Nos últimos três meses, a procura pelo produto registrou um crescimento recorde: em junho houve aumento de 108% comparado a maio e, em julho 193% sobre o mês anterior. “Quando lançamos houve aquele boom, depois caiu um pouco e hoje a procura apresenta momento de estabilidade, com crescimento gradativo”, comenta a gerente de Sustentabilidade no Consumo do Pão de Açúcar, Beatriz Queiroz.
Para a coordenadora do Akatu, além de oferecer opções ao uso das sacolas plásticas, as redes varejistas precisam também trabalhar em outras frentes para que a substituição de fato aconteça. “Os supermercados precisam treinar os caixas para que eles forneçam informações de maneira fácil e direta ao consumidor sobre a relevância do problema”, salienta. Ainda segundo ela, o consumidor também precisa assumir a posição de sujeito nesse cenário. “O consumidor tem que exigir alternativas e ter consciência do seu hábito de consumo, questionando sempre os impactos positivos e negativos de suas escolhas”.
Para Raquel Diniz, a população deve, ainda, desenvolver hábitos que evitem ao máximo o uso inadequado dos sacos plásticos. “A sacolinha plástica é utilizada muitas vezes para depositar lixo e, nesse caso, pequenas atitudes mudam muito o impacto ambiental. Se o material for reciclável ou orgânico o ideal é jogar direto na lata de lixo. Mas se for inevitável utilizá-la para esse fim é importante evitar usar duas ao mesmo tempo e aproveitar ao máximo todo o volume”, explica.
Verde e lucrativo
A polêmica sobre o uso das sacolas plásticas tem despertado o interesse de empreendedores, que vêem na substituição uma boa oportunidade de negócios, aliada à preservação do meio ambiente. Exemplo é a confecção Gatto de Rua, de Santos (litoral paulista), que lançou recentemente a Bag Market, uma bolsa feita em TNT, com três compartimentos, que reveste os carrinhos de supermercados. “A proposta é oferecer um produto com durabilidade e funcional, que possibilite um menor uso das sacolas plásticas”, explica a sócia-diretora da empresa, Elaine Guapo.
Há 19 anos no mercado e cinco produzindo produtos promocionais para grandes corporações, a empresa aposta no bom momento para colocar no mercado artigos que tenham como diferencial a questão ambiental. “Quando apresentamos a peça para as primeiras redes, há quem duvidou do sucesso dela. Mas os consumidores conscientes têm comprado e voltado ao supermercado usando as sacolas, o que mostra que é uma tendência que veio para ficar”, garante.
A previsão otimista tem base em números concretos: em apenas dez dias no Extra de Santos, 330 sacolas foram vendidas. “Foi um projeto piloto desenvolvido em parceira com o Coppertone. Depois desse sucesso outras marcas nos procuram e até tivemos que disponibilizar a venda do produto no nosso site”, comemora Elaine Guapo. Hoje a capacidade de produção da empresa são 24 mil peças por mês. Mas para o próximo ano, a expectativa é alcançar a marca das 48 mil unidades mensais. “Atualmente temos sacolas em três tamanhos diferentes, que se adapta aos carrinhos de supermercado e hipermercados. Mas vamos desenvolver outros modelos para serem utilizadas em compras menores, como farmácias e padarias”, antecipa.
Para ela, a adoção da sacola ecologicamente correta traz benefícios para todos. “A rede terá ganho em imagem, fidelização da clientela e economia na manutenção dos carrinhos, uma vez que a bolsa o reveste. Já o consumidor ficará menos tempo na fila do caixa e protegerá melhor seus alimentos, evitando a pré-contaminação. Mas o grande ganhador é o meio ambiente”, conclui.
Instituto Akatu – Telefone: (11) 3643-2714 ; Pão de Açúcar – Telefone: (11) 3886-0533 e Gatto de Rua – Telefone: (13) 3223-6518 / 9562
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