
Apresentadores do primeiro programa da TV brasileira para surdos
Iniciativa inédita lança jornal televisivo voltado para público surdo.
Um telejornal diferente e especial entrou no ar neste mês. O Telelibras, fruto de uma idéia simples e inovadora, oferece notícias diversas com a atuação de intérprete em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Trata-se de um formato inédito no país e é criação da ONG Vez da Voz, de Campinas. A instituição trabalha com uma proposta pedagógica para inclusão social de pessoas com deficiências e conta com o selo de Apoio Institucional da Unesco.
O jornal, disponível no endereço http://www.vezdavoz.com.br, traz informações sobre esportes, economia, ciência e as novidades de inclusão social. Segundo a presidente da ONG e idealizadora do projeto, Cláudia Cotes, o principal objetivo do jornal é democratizar o acesso a conteúdos audiovisuais. “Nós pretendemos oferecer um canal de informação para a comunidade surda. No Telelibras, o intérprete e o apresentador aparecem no mesmo plano, lado a lado, porque somos iguais, independente das nossas diferenças”, destaca.
Inicialmente o jornal é semanal, atualizado sempre às sextas-feiras e apresentado pela presidente da ONG, Cláudia Cotes e pelo voluntário Rogério Souza, que faz a interpretação em Libras. O site da instituição recebe, em média, cinco mil acessos mensais. Depois da implantação do jornal, o número saltou para mais de três mil visitas no intervalo de 15 dias. “A idéia é triplicar esse número e tornar o telejornal diário”, diz Cláudia.
Para o futuro, a ONG pretende produzir um programa de televisão voltado para o público surdo. “Estamos terminando de editar o episódio-piloto e vamos atrás de parceiros”, revela Cláudia. Criada em 2004, a instituição é formada por uma equipe com mais de 30 profissionais de diferentes áreas, como fonoaudiólogos, pedagogos, psicólogos, artistas plásticos e jornalistas, entre outros.
Descaso
Segundo dados do último Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje há no Brasil mais de 5,7 milhões de pessoas com problemas relacionados à surdez – desses, 166 mil são incapazes de ouvir. Ainda assim, as ações para disponibilizar interpretação em Libras em conteúdos audiovisuais, como cinema, jornais ou novelas são praticamente inexistentes. Nenhum telejornal veiculado na TV aberta brasileira, por exemplo, utiliza a representação na linguagem de sinais, reconhecida desde 2002 como meio legal de comunicação e expressão (Lei nº. 10.436).
As poucas propostas apresentadas como forma de minimizar essa falha esbarram na burocracia ou no total descaso, como o Projeto de Lei (PL) número 4176/2004, que está parado na Câmara dos Deputados. Esse PL, de autoria do ex-deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), sugere a adoção de legenda em filmes nacionais e em peças teatrais para permitir que as pessoas com deficiência auditiva possam acompanhar o enredo. A proposta foi arquivada em janeiro deste ano por motivo de mudança de legislatura.
“Vejo que há muito discurso e pouca prática”, critica Cotes. O projeto, criado há três anos e sem nenhum avanço expressivo, só voltará à tramitação se o deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG) e relator resolver tirá-lo da gaveta. Segundo a assessoria do parlamentar, isso está nos planos. Só resta saber quando.
ONG Vez da Voz – Tel: (19) 3253-0404
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