
Ivan Brito conseguiu um estágio como auxiliar de confeitaria no Kubitschek Plaza Hotel, em Brasília
Junto com a massa de desempregados que hoje assusta os governantes do Brasil, existe a população de portadores de deficiências mentais cujo sofrimento vai além da falta de vagas. Essas pessoas são vítimas constantes do preconceito e da falta de credibilidade em seu potencial de trabalho. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 10% da população é composta por portadores de deficiências – que variam entre visual, auditiva, física e mental. Entre esse total, 50% são portadores de deficiências mentais.
Ao estimar um cálculo aproximado desse contingente no Brasil, podemos concluir que são cerca de oito milhões de pessoas, tomando por base um cálculo sobre a população total de 160 milhões de habitantes. “Infelizmente, estimando uma média nacional, nem 5% desses oito milhões chegam a ocupar um posto de trabalho”, avalia a pedagoga e Coordenadora Nacional de Educação para o Trabalho da Federação Nacional das APAEs, Doracy Gomes Nonato.
O movimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), começou em 1955, no estado do Rio de Janeiro. Desde então, vem se desenvolvendo de forma extraordinária e hoje, 47 anos depois, já conta com a seguinte estrutura: Sede Nacional da APAE (em Brasília), 21 Federações Estaduais, 160 Delegacias Regionais e cerca de 2 mil APAEs funcionando em todos os estados brasileiros. A grande maioria dessas unidades contém um setor especial para o desenvolvimento do projeto “Educação para o Trabalho”. De acordo com Doracy, a grande preocupação da instituição é preparar bem seus alunos para competir no mercado. “E nós temos conseguido ótimos resultados”, diz. O problema, segundo ela, é que poucos empresários ousam fazer uma contratação desse tipo. A maior parte dos contratantes tem receio, preconceito e não acredita em seu potencial. Por outro lado, reafirma Doracy, quem acredita acaba se surpreendendo com os resultados. “Temos depoimentos de empresas que confirmam serem os portadores de deficiências mentais os empregados mais interessados, mais produtivos, mais concentrados e com trabalho de melhor qualidade”, ressalta.
Tanta satisfação não vem de graça. Antes de ingressar no mercado, todos os alunos da APAE passam por um treinamento intenso em diversas oficinas de trabalho – como carpintaria, serviços gerais, confeitaria, pintura, artes, costura, serigrafia, marcenaria, entre muitas outras. A lei federal 8.213 de 1991, regulamentada em 1999, obriga as empresas com mais de 100 funcionários a manterem quadros funcionais compostos de 2% a 5% por pessoas portadoras de deficiências. “Infelizmente, nem todas cumprem a lei. Apesar de haver fiscalização, as coisas nem sempre funcionam como deveriam funcionar”, lamenta Doracy.
Além dos empresários ganharem com a inclusão desses indivíduos no mercado de trabalho, eles próprios alcançam um grau de independência e, por conseqüência, sentem-se mais úteis, estimulados e respeitados no meio em que convivem. Exemplo disso é a satisfação do jovem de 25 anos, Ivan Brito, que conseguiu um estágio no Kubitschek Plaza Hotel, em Brasília. Lá, trabalhou como auxiliar de confeitaria e fez muitos amigos. “Foi uma boa oportunidade de trabalhar com tudo aquilo que aprendi”, avalia Ivan.
O hotel – considerado um dos mais luxuosos da capital – está há três meses desenvolvendo um programa de estágio para alunos da APAE no Distrito Federal. O superintendente do hotel, Hélder Carneiro, achou que a experiência foi muito positiva. “A iniciativa de contratar alunos da APAE é algo muito natural, mas que exige coragem para derrubar tabus e preconceitos da sociedade. Porém, é certo que os resultados desse trabalho compensam todo o investimento”, afirma Hélder.
Site: www.apaebrasil.org.br
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