Lixo de rua vira arte no DF

Miguel Mister e Ângela Leon do grupo Basurama visitam Lixão e ministram oficina artística

Grupo espanhol realiza oficinas artísticas em comunidades carentes e transforma resíduos em peças para representar Brasília

Materiais como garrafas pets e sofás velhos encontrados nos lixos do Distrito Federal ganharão novas formas para homenagear os 50 anos de Brasília, celebrado em 21 de abril de 2010. Dois integrantes do grupo espanhol Basurama, que trabalha com resíduos e outros objetos, ministraram no mês passado oficinas artísticas nas comunidades de Arapoanga, Estrutural e Itapoá. O trabalho faz parte das comemorações do aniversário da capital federal e visa confrontar a relação entre as comunidades situadas na periferia e na área nobre do DF.

“Mais do que a produção artística, o trabalho envolve a reflexão sobre a produção excessiva de lixo e a importância das atividades dos catadores na preservação do meio ambiente”, comentou a diretora da Casa de Cultura da América Latina (CAL/UnB), Ana Queiroz. O projeto é uma parceria entre a CAL, ligada ao Decanato de Extensão da UnB, o Instituto Cervantes e a Central Única de Favelas (Cufa-DF).

Desde 2007, o Basurama realiza na América Latina pesquisas sobre a produção de resíduos no continente americano e suas consequências culturais na sociedade de consumo. No início de agosto, o grupo esteve em Arapoanga, na Estrutural e Itapoã para conhecer as áreas e detectar as situações. Na primeira visita ao aterro da Estrutural, o arquiteto Miguel Mister viu mais do que uma montanha de lixo. “Tínhamos uma visão da cidade ideal, modelo de progresso. Mas, como a maioria dos centros urbanos, aqui há uma série de contradições”, disse.

O olhar treinado do grupo espanhol percebeu o material diversificado. “Aqui tem de tudo, o que mostra as diversas facetas de uma cidade consumista”, disse Miguel, que comparou o aterro ao das capitais da República Dominicana, Santo Domingo, e do Paraguai, Assunção. “Em Madrid vemos um lixo mais elitista, como mobília e objetos pessoais, já em Montevidéu (capital do Uruguai), pela condição econômica, o lixo é mais simples, como garrafas, latas e papelão”, explicou.

“Queremos conhecer o olhar das pessoas que vivem aqui por meio das sensações que elas sentem diante da cidade. Vamos estimular a criação de objetos que representem Brasília e fazer exposições itinerantes em diversos pontos”, explica Ângela Leon, colaboradora do Basurama, fundado em 2001 por nove estudantes de Arquitetura da Universidade Politécnica de Madrid.

Mas não foi só o lixo de Brasília que chamou a atenção dos espanhóis. A imagem do descaso social no Lixão da Estrutural também marcou os membros do Basurama. “É preciso investir na coleta seletiva e diminuir a produção de lixo. Se cada um fizer a sua parte em casa, essas pessoas não precisariam trabalhar dessa forma”, observou Miguel Mister. Hoje, existem cerca de 1,6 mil catadores na Estrutural, divididos em cinco cooperativas.

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