
Arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UnB, Raquel Naves Blumenschein
Universidade de Brasília capacita profissionais para o reaproveitamento de resíduos de construção
O cuidado com o meio ambiente chegou aos canteiros de obras do Distrito Federal. Equipe do Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis) da Universidade de Brasília (UnB) vem desenvolvendo uma tecnologia de reciclagem de resíduos sólidos para o reaproveitamento. O cuidado não é por menos. Diariamente são produzidos no DF entre 4,5 e 6,5 toneladas de entulhos derivados da construção civil e esse material compõem mais de 50% do volume do lixo encontrado nos depósitos.
Com a técnica, o grupo atua na redução do desperdício desses materiais, na análise do ciclo de vida dos entulhos reciclados e no gerenciamento dos mesmos nos canteiros de obras. “Esse trabalho é bastante importante, pois reduz em até 80% o número de resíduos que são depositados em aterros e no meio ambiente, além de economizar matéria-prima”, destaca a arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UnB, Raquel Naves Blumenschein, que coordena o projeto.
Iniciado em 2003, o programa já soma 1.800 trabalhadores capacitados, entre engenheiros, pedreiros e serventes, além de 49 construtoras. Eles receberam orientações a respeito dos procedimentos que devem ser adotados para o cumprimento da resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). “A norma visa à minimização de impactos ambientais causados pelo entulho, particularmente no descarte e estabelece a responsabilidade dos agentes envolvidos no empreendimento pelo destino do lixo”, explica a arquiteta.
Pela determinação do Conama, resíduos como tijolos, blocos de concreto, cerâmica, meios-fios, argamassa, telhas, tubulações plásticas, vidros, metais e madeiras devem ser reciclados ou reutilizados nas construções. Há, ainda, materiais tecnicamente e economicamente inviáveis para reciclagem, como o gesso. Os resíduos perigosos, como solventes e tintas seguem regras específicas quanto ao descarte. Embora a resolução tenha sido editada em 2002, poucos agentes envolvidos na construção civil conhecem ou adotam essas responsabilidades.
Para a arquiteta, um dos grandes desafios para a reciclagem, é treinar construtoras e operários a separarem o lixo nos canteiros de obras. Nesse cenário, algumas construtoras já mostram serviço. Desde 2005, a Emplavi, por exemplo, segrega resíduos como plásticos, madeira, papelão, vidro e metais e os repassa para as indústrias de reciclagem. Outros resíduos, como concreto, argamassa, tijolos, gesso, tintas, solventes e óleos, ainda são descarregados nos lixões.
Contudo, a arquiteta da UnB alerta que parte desses materiais pode ter outro destino: o próprio setor da construção. “Todo esse material de Classe A (os resíduos reutilizáveis como tijolos, telhas, placas de revestimento, argamassa e concreto) pode ser reaproveitado. Já existem várias iniciativas nesse sentido”, afirma. Exemplo é a própria UnB, que moí sobras de concreto, argamassa, tijolos, cerâmica e cimento e os transforma em bloquetes, que estão sendo utilizados na construção dos pisos da nova sede do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da universidade.
Segundo o gerente de Engenharia da Emplavi, Walter Segond, a empresa pretende sugerir ao governo local a adoção de um espaço específico para a instalação de uma usina de reciclagem de resíduos sólidos. “Até que isso ocorra, nada mais pode ser feito, além dos resíduos continuarem a serem depositados em lixões ou mesmo em áreas proibidas”, argumenta.
Multiplicadores
O próximo passo do projeto da UnB é transferir a tecnologia de reciclagem de resíduos sólidos para cooperativas de catadores de lixo do DF. A primeira a receber capacitação, que deve ocorrer ainda neste ano, será a Cooperativa Astradasm, de Santa Maria, cidade a 27,3 km de Brasília. Segundo Raquel os cooperados não serão os únicos beneficiados com o projeto, mas a indústria da construção que absorverá a metodologia de gestão de resíduos em canteiros de obras e toda a sociedade que se beneficia com a preservação do meio ambiente.
Todo esse trabalho da universidade faz parte do Programa de Gestão de Materiais (PGM) e conta com a parceria do Sindicato da Indústria da Construção do DF (Sinduscon-DF), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e do Sebrae.
Universidade de Brasília – Tel: (61) 3307-2028 / 2029 / 2246 e Emplavi – Tel: (61) 3345-9400
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