A superintendente executiva Regina Célia Esteves de Siqueira, e o gerente de erradicação do analfabetismo do Governo do Distrito Federal (GDF), Sinval Lucas
Moradora da Ceilândia monta sala de aula na própria residência e oferece cursos de alfabetização para 75 pessoas.
A casa de Luzineide Ribeiro Mendes, de 31 anos, se transformou num ponto de troca de experiências, ensinamentos e cidadania. Com a ajuda do marido, pedreiro, ela montou no local, localizado na Ceilândia, no Distrito Federal, uma sala de aula e oferece cursos de alfabetização para 75 pessoas. “A região é um assentamento novo e há muitas pessoas que precisam ser alfabetizadas. Tanto é assim que nem precisei divulgar muito a existência do curso para montar três turmas”, conta.
O espaço é pequeno, principalmente pela quantidade de materiais didáticos disponíveis – como uma caixa com dicionários, outra com material para pesquisa e uma terceira contendo um alfabeto móvel, que os alunos utilizam para montar palavras – mas isso não impediu o bom resultado do projeto. “Os alunos já estão aprendendo a procurar no dicionário o significado das palavras que desconhecem, mostrando que estão tendo uma ótima evolução no curso”, avalia.
O trabalho da alfabetizadora faz parte do “Projeto abcDF”, executado pela organização da sociedade civil Alfabetização Solidária (AlfaSol), em parceria com o governo local, que oferece cursos de alfabetização para jovens e adultos em praticamente todas as cidades satélites do DF. Em funcionamento desde o ano passado, o projeto já atendeu 10 mil pessoas e tem metas audaciosas. O objetivo é diminuir os níveis de analfabetismo apontados nos estudos mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostram a existência de mais de 50 mil analfabetos no DF. A estimativa é alcançar 30 mil estudantes em 2008 e 2009, e mais 10 mil alunos em 2010.
No último mês, a sala de aula de Luzineide recebeu a visita da superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia Esteves de Siqueira, e do gerente de erradicação do analfabetismo do Governo do Distrito Federal (GDF), Sinval Lucas, que ficaram impressionados com os resultados. “Em uma das paredes havia um cartaz, elaborado pelos alunos, abordando questões da sala de aula e também da comunidade, fato que demonstra que os alunos estão despertando para uma participação cidadã, que é um dos objetivos do projeto”, aponta Regina Esteves.
Há 12 anos, a instituição trabalha para reduzir os altos índices de analfabetismo e ampliar a oferta pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil. A organização adota um modelo de alfabetização simples, inovador e de baixo custo, baseado em parcerias, que já foi premiado várias vezes internacionalmente.
A sustentabilidade é outra marca do projeto. Todos os alunos que concluem o curso de alfabetização são incentivados a continuarem os estudos e encaminhados para o EJA da Secretaria da Educação e também a oficinas de capacitação profissional promovidos pela Secretaria do Trabalho. Desde a sua criação, o projeto já beneficiou mais de 5,3 milhões de jovens e adultos e capacitou 248 mil alfabetizadores em 2.109 municípios brasileiros.
“Estamos felizes com os primeiros resultados do trabalho realizado no DF. Temos certeza de que essa parceria resultará não somente na diminuição dos índices do analfabetismo, mas também na melhoria da qualidade de vida de milhares de brasilienses que não tiveram a oportunidade de freqüentar o ensino regular, e que a partir dessa experiência darão continuidade ao processo de escolarização”, destaca Regina Siqueira.
Desafios
Segundo a superintendente da AlfaSol os desafios para todos os brasileiros terem educação de qualidade são grandes e dependem da implantação de políticas públicas e de uma maciça mobilização nacional envolvendo todos os setores da sociedade. “É preciso ressaltar que para atingir uma demanda tão extensa como a do Brasil, a Alfabetização Solidária concebe o modelo de atuação por meio da união de esforços. Por esse motivo, desde a sua fundação atua consolidando alianças com empresas privadas, instituições governamentais e não-governamentais, Instituições de Ensino Superior, municípios e governos estaduais e federal”, explica.
A nova edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que, de 2006 para 2007, o Brasil reduziu o analfabetismo de 10,4% para 10%. Segundo o relatório, em todas as regiões, o problema recuou, mas a desigualdade se manteve. No Nordeste, a queda – a maior na comparação regional – foi de 20,7% para 19,9%, o que significa que um em cada cinco analfabetos brasileiros mora na região.
“A educação de jovens e adultos merece um olhar diferenciado dentre as políticas de educação, contemplando a mobilização de alunos, estratégias de diminuição da evasão que perpassam pela qualificação dos educadores e contextualização do processo de ensino-aprendizagem, respeito aos saberes dos alunos, além do entendimento de que o processo de escolarização é contínuo”, completa.
Alfabetização Solidária – Tel.: (11) 3372-4321
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