
Yann Duzert
A Ebape/FGV em parceria com o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) lançou este ano o I Fórum Mundial para Crianças em Risco. O evento não poderia deixar de ser um sucesso. Em entrevista ao www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, o Coordenador de Cursos Internacionais da Ebape/FGV, Yann Duzert, conta sobre os resultados do encontro e sobre as origens do Fórum.
1) Responsabilidade Social – O Brasil ocupa hoje um lugar nada confortável no ranking de violência entre jovens e crianças. Segundo dados da Unesco, o país é o terceiro entre 84 países pesquisados, onde se morrem mais jovens vítimas da violência. Já a Secretaria de Direitos Humanos revelou recentemente que há cerca de 40 mil jovens cumprindo alguma medida sócio-educativa (pena) no Brasil. Diante de um cenário tão preocupante, como o senhor acha que I Fórum Mundial para Crianças em Risco pode contribuir para mudar esse quadro?
Yann Duzert – O objetivo deste Fórum é mostrar todas as melhores práticas que permitem de reduzir a violência. Trabalhamos há bastante tempo com a FGV- EBAPE, o Banco Inter Americano de Desenvolvimento, as Nações Unidas, o Consensus Building Institute, o MIT-Harvard Public Disputes Program, a Quincy Jones Listen Up Foundation, o MEC, o Ministro Gilberto Gil, o Governador Sérgio Cabral e o prefeito César Maia para criar uma geração de pacificadores, e essa cooperação já mostra resultados positivos.
2) RS – Como surgiu a idéia de realizar esse evento e quais são as principais motivações e expectativas?
YD – A idéia surgiu em uma reunião com Quincy Jones e crianças de uma ONG chamada Amigos para Sempre. Expliquei ao Quincy o trabalho que havia desenvolvido treinando mediadores da Viva Rio, da Presidência da República – CDES e das escolas do MEC. Assim pensamos que poderíamos unir uma equipe de colaboradores junto com o Presidente do BID Luiz Moreno, para incentivar uma consciência coletiva sobre a necessidade de incentivar o diálogo, objetivando a criação de um consenso e não uso da força e o conflito. Queremos convidar ONGs que atuam em 4 áreas que serão painéis no Fórum:
– Saúde para crianças
– Educação para crianças
– Cultura para crianças
– Redução da violência e proteção das crianças
3) RS – O Fórum prevê ações práticas e intervenções em comunidades ou terá uma atuação apenas teórica?
YD – Nós vamos convidar ONGs do mundo inteiro para mostrar projetos bem sucedidos, convidar cientistas para propor novas tecnologias e desenvolver novas estratégias. Já foram desenvolvidos projetos no MIT que proporcionaram novas tecnologias de tratamento de água, há também o computador do Prof Negroponte de apenas US$150. Teremos um especialista em análises de indicadores para ONGs, um especialista em medicina preventiva, economistas como Marcelo Néri da FGV e Professores como David Fairman e Lary Susskind que são especialistas em mediação do MIT-Harvard Public Disputes Program e Consensus Building Institute. O Objetivo é ter quatro salas de debates durante dois dias e uma feira onde cada ONG poder apresentar o trabalho dela para o público, e assim atrair voluntários e recursos.
4) RS – Qual a atuação do produtor Quincy Jones no projeto?
YD – O Quincy Jones é o Presidente da Quincy Jones Listen Up Foundation, ela já atua na África do Sul com Nelson Mandela, com Oprah Winfrey, com o Presidente Mubarak no Egito e também na China. O Quincy Jones está atuando junto com Luiz Moreno do BID para o sucesso deste Fórum levando grandes especialistas mundiais para este Fórum também é
5) RS – Trabalhar com pessoas como a modelo Naomi Campbell, que tem um histórico de envolvimentos com drogas, não pode acabar por trazer uma repercussão negativa para o evento?
YD – A Naomi Campbell deve tal vez aparecer num filme sobre o Brasil que mostra à moda, a música Brasileira, a cultura braseira que ela conhece e ama. Naomi tem um grande coração e ela quer fazer uma bela contribuição para ajudar o Brasil. O Fórum mundial para crianças não é um filme sobre o Brasil. Se Naomi quiser vir no Fórum, ela será bem vinda também, este Fórum para crianças esta aberto para todos os cidadãos que querem fazem alguma coisa positiva para melhorar a vida dessas crianças. Todo mundo tem o direito de errar e de ter uma redenção, o escritor alemão Goethe falava “A vergonha não é de cair, mas de cair e não se levantar depois”.
6) RS – Qual a sua opinião sobre a revisão da maioridade penal, assunto que tem dividido a opinião pública brasileira?
YD – Acho que devemos proteger os direitos das crianças de ser crianças e não adultos. Temos que fortalecer o direito de uma criança a não ficar abandonado na rua e criar um direito universal para que cada criança abandonada recebesse o carinho de pais adotivos ou educadores sociais. Também, é importante fortalecer a repressão dos pais que não respeitam os direitos das crianças. Já fazendo isso deve limitar muitas raivas dessas crianças abandonadas.
7) RS – O senhor acredita que o Estatuto da Criança e Adolescente é um instrumento eficaz para cobrar o cumprimento dos direitos desses cidadãos? O que precisa melhorar?
YD – Acredito que já é um passo positivo e que deve se traduzir em realidade no quotidiano dessas crianças. Ainda parece que a Lei não pegou. Temos que ser muito rigorosos na execução dessas idéias
8) RS – Qual a sua visão sobre Responsabilidade Social?
YD – Ela engloba responsabilidade sobre o presente e o futuro como habilidade de criar uma racionalidade em forma de egoísmo altruísta, querendo fazendo o bem do outro nosso próprio interesse. Responsabilidade social quer dizer responsabilidade sobre as futuras gerações, que contribuição fizemos nossas vidas para fazer um mundo melhor.
9) RS – Qual a sua avaliação sobre o trabalho em responsabilidade social das empresas brasileiras, especialmente no que se refere às crianças e adolescentes?
YD – Está mostrado que o Brasileiro tem emoção e um grande coração. Quando vejo a Fundação Roberto Marinho, Fundação Itaú, Fundação Vale do Rio Doce e muitas outras, vejo que estamos falando com pessoas sérias, competentes e ser humanos maravilhosos. Tenho muita admiração para a consciência coletiva do mundo empresarial brasileiro. No meu livro ‘Manual de Negociação complexas’ publicado o mês passado no Brasil pela Editora FGV, meus colegas professores de Harvard Law School, Harvard Business School, e MIT Environment Policy Group escrevem capítulos mostrando como usar técnicas modernas de criação de consenso para otimizar o trabalho das empresas na questão da responsabilidade social.
10) RS – Na sua visão, o que precisa mudar no Brasil para oferecermos condições mais humanas para as nossas crianças?
YD – O primeiro passo consiste em incentivar as pessoas de terceira idade a ser complementores dos pais na educação e no acompanhamento das crianças. Vejo uma imensa riqueza não utilizada, as pessoas aposentadas têm o tempo e a paciência de cuidar das crianças, podem se tornar maravilhosos educadores, e viver em harmonia com as crianças. Vejo muitos ganhos mútuos em facilitar juntar as crianças com as pessoas aposentadas. Temos que organizar essas duas comunidades e unir elas.
Segundo é primordial valorizar na televisão, nas escolas primarias e nos bairros uma cultura de ganhos mútuos e paz, com imagens de vida saudável, comportamentos amistosos, criativos. E necessário criar pacificadores a partir das escolas, temos para crianças um programa Workable Peace com o Consensus Building Institute e as Nações Unidas que poderiam ser um sucesso no Brasil.
Prof. Yann Duzert – E-mail: yann@fgv.br – Telefone: (21) 2559 5717
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