
Jorge Alexandre Cruz
A Fundação Ary Frauzino para Pesquisa e Controle do Câncer (FAF) não tem poupado esforços na luta contra o câncer. Como um dos principais parceiros do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a fundação administra hoje mais de 100 projetos do instituto nas áreas de assistência médico-hospitalar, educação, pesquisa, prevenção, vigilância, e desenvolvimento institucional e humano. Somente em uma campanha realizada em setembro, a entidade arrecadou R$ 334 mil, que serão utilizados no projeto de implantação da emergência pediátrica do Inca, orçado em R$ 500 mil. Outra ação que merece destaque é o Banco Nacional de Tumores, que centraliza os dados para pesquisa de diagnóstico e tratamento do câncer no país, com a proposta de estudar o comportamento de tumores a partir do padrão genético do brasileiro. Em entrevista exclusiva ao www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, o superintendente da fundação, Jorge Alexandre Cruz, explica como a entidade atua e os desafios na área do câncer no país.
1) Responsabilidade Social – A Fundação Ary Frauzino para Pesquisa e Controle do Câncer (FAF) há 17 anos atua na luta contra o câncer. Neste ano participou da campanha “McDia Feliz”, arrecadando recursos para o Projeto de Implantação da Emergência Pediátrica, no Inca, orçado em R$ 500 mil. Quais os resultados dessa ação?
Jorge Alexandre S. Cruz – A pré-venda dos tíquetes da campanha McDia Feliz, por equipes da FAF e do Inca, arrecadou R$ 334 mil. Foram vendidos 44.609 vales que no dia puderam ser trocados por um sanduíche em uma das lojas da rede. É o maior número de tíquetes vendidos desde 1998, quando a fundação começou a participar antecipadamente da campanha. O número bateu o recorde de 2002, de 38.903 tíquetes. Os recursos serão utilizados no projeto de implantação da emergência pediátrica do INCA, orçado em R$ 500 mil.
Essa é uma parceria de longa data. Os recursos da campanha de 2007 estão sendo utilizados para a construção da emergência pediátrica. Os deste ano, para o funcionamento da mesma. Os recursos de edições anteriores da campanha foram destinados à construção no Inca do consultório oftalmológico pediátrico, da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e programas de educação à distância para detecção precoce do câncer em crianças e adolescentes.
2) RS – Como é pautado o trabalho da fundação e como sua atuação evoluiu ao longo dos anos?
JC– A fundação foi criada em 1991 para apoiar as atividades de combate e controle do câncer. Tendo essa missão como referência, o seu trabalho é pautado na captação de recursos e prestação de serviços em áreas de pesquisa, ensino e desenvolvimento institucional, científico e tecnológico. A atuação da FAF tem viabilizado o crescimento contínuo e estável do Inca, principal referência no controle da doença no país.
A meta da FAF é ampliar a captação de recursos junto a empresas e pessoas físicas interessadas em aderir à luta contra a doença. Isso permitirá aumentar, cada vez mais, o número de pesquisas na área, de ações educativas e preventivas no controle do câncer, além de permitir melhoria no apoio logístico aos projetos desenvolvidos no Inca, assim como nas instalações do instituto.
3) RS – Uma das frentes de trabalho da entidade é o apoio a pesquisa básica e aplicada. Como está o Brasil nesse cenário?
JC – No que diz respeito à causa do câncer, podemos afirmar que o Inca é a referência no país para esse assunto. Seguindo uma tendência mundial de pesquisa em oncologia, o instituto tem investido, com o apoio da fundação, em grupos de pesquisa translacional, isto é, aquelas que desenvolvem projetos visando à rápida transição dos conhecimentos da ciência básica para a prática clínica.
Esse tipo de pesquisa está diretamente ligada e dependente de políticas e estruturas voltadas para o desenvolvimento tecnológico na área da saúde, em consonância com as diretrizes do Ministério da Saúde, e tem o potencial de beneficiar de uma forma mais rápida e efetiva os pacientes com neoplasias.
O instituto conta, atualmente, com um centro de referência nacional e internacional em pesquisa clínica. Além disso, por exercer o papel de executor da política nacional de câncer, o instituto vem sendo procurado por diversas instituições acadêmicas brasileiras para estabelecer parcerias.
Ao longo dos últimos anos, o instituto se tornou reconhecido internacionalmente por suas ações e a fundação, desde a sua criação, apóia o Inca no estabelecimento de linhas sólidas de pesquisa básica e clínica.
4) RS – Descreva os principais projetos que a Fundação comanda hoje e resultados que podem ser apresentados.
JC – A fundação é gestora de mais de 100 projetos no Inca. Vários deles são parcerias de longas datas. Desde 2005, por exemplo, a ArcelorMittal Brasil propicia recursos à FAF voltados para ações ligadas à doação de medula óssea. Ações desenvolvidas com o apoio da empresa resultaram num grande crescimento do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), que passou de 80.251 em 2004 para 735.475 em junho desse ano. E essa semana, a empresa doou mais recursos para ações voltadas à fidelização dos doadores cadastrados no Redome.
Também na área de medula óssea, é importante destacar a atuação na FAF na viabilização do Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário, inaugurado em 2001 e construído com recursos do BNDES. Foi o primeiro banco desse tipo no Brasil, cujo objetivo é aumentar as chances de localização de doadores. Hoje, o banco centraliza a rede Brasilcord, formada por outros três bancos. No momento, a fundação trabalha em um projeto para triplicar a capacidade dessa rede.
Desses 100 projetos, vou destacar dois. Um deles é o Banco Nacional de Tumores, financiado pela Swiss Bridge Foundation, que centraliza os dados para pesquisa de diagnóstico e tratamento do câncer no país, com a proposta de estudar o comportamento de tumores a partir do padrão genético do brasileiro. O segundo é o projeto de melhoria da qualidade das mamografias, que contou com o apoio do Instituto Avon e foi idealizado pelos médicos do Inca após estudos comprovarem que os exames prestados na maioria das clínicas eram ruins para o diagnóstico precoce da doença. O objetivo é qualificar todos os envolvidos nos exames a partir de treinamento e exigência de certificações, credenciamento e monitoramentos destes serviços juntos ao SUS.
5) RS – O povo brasileiro se diz solidário. É solidário com a fundação?
JC – Sim. É solidário. A adesão à campanha do McDia Feliz é um exemplo. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas contribuem com a fundação. Para alimentar essa corrente, a FAF se preocupa em dar constantemente retorno de suas ações e transparência na prestação de contas. Esse cuidado, além da responsabilidade na gestão dos recursos, dá segurança às empresas que, na maioria das vezes, renovam e complementam os termos de cooperação assinados com a FAF, tendo o Inca como beneficiário.
Nossa intenção é aumentar a nossa captação de recursos para investirmos cada vez mais na luta contra o câncer. Para isso, estamos investindo em ações de comunicação para tornar o nosso trabalho mais conhecido do público em geral.
6) RS – Como caminham as iniciativas da fundação e as políticas públicas do Estado? Explique como é o trabalho desenvolvido em parceria com o Inca, por exemplo.
JC – A FAF apóia o Inca em sua função de órgão normativo e executor da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer. O papel da fundação é firmar parcerias com pessoas e instituições que desenvolvam atividades voltadas ao combate ao câncer no país e captar recursos para serem aplicados em projetos ligados à causa.
Por exemplo, ao longo desses anos, a FAF teve um papel importantíssimo na viabilização de ações do instituto, tais com atividades assistenciais de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes com câncer; ensino e a educação continuada de profissionais de saúde; ações educacionais para a população, alertando para o controle dos fatores de riscos que propiciam o aparecimento da doença; apoio técnico e material aos pesquisadores e às instituições científicas; apoio e patrocínio do desenvolvimento tecnológico em saúde, bioengenharia, técnicas administrativas e operacionais e na promoção e realização de eventos científicos e de divulgação de conhecimentos.
7) RS – Como o senhor (a) define o conceito de Responsabilidade Social?
JC – A responsabilidade social é um tema que ganha cada vez mais relevância no mundo de hoje. Isso porque todos nós somos responsáveis por construir um mundo melhor. Anteriormente, havia a mentalidade de que unicamente o Estado deveria responder pela construção, aos cidadãos cabia exclusivamente o pagamento dos impostos. Não é apenas isso. Todos os agentes – poder público, iniciativa privada e cidadãos – devem contribuir com um mundo melhor.
O projeto que assinamos recentemente com a ArcelorMittal Brasil é um exemplo. O Inca é o braço público que é responsável pela política nacional de controle do câncer; a empresa financia o projeto para ampliação do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea e os cidadãos contribuem participando dessa rede de solidariedade. A FAF é o agente que, nessa história, viabiliza a execução do projeto dentro do prazo e orçamento previstos.
8) RS – Quais são os desafios da fundação e quais são suas pretensões para o futuro?
JC – Os desafios na área do câncer são enormes. Precisamos gerar recursos para financiar projetos que são de grande relevância para o país. O maior desafio da fundação é ampliar a captação de recursos junto ao público em geral. Para isso, estamos investindo para melhorar a comunicação com o público para tornar a nossa marca mais conhecida e dar mais transparência às nossas ações.
Fundação Ary Frauzinho para Pesquisa e Controle do Câncer (FAF) – Telefone: (21) 2157-4600
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