
O voluntariado se mostra cada vez mais produtivo no país, com aspectos que vão além do interesse social – hoje ele é visto como estratégia de mercado. A constatação está na pesquisa realizada pela Riovoluntário com 89 empresas (de todos os portes e setores que atuam em território nacional), que mostrou que 45% das companhias mantêm programas estruturados de voluntariado com planejamento e orçamento anual.
Segundo especialistas, as empresas estão atentas ao crescimento das demandas criadas pelo aumento da concorrência e de fatores que podem interferir diretamente no bolso, como o consumidor mais consciente que leva, sim, em conta, na hora de comprar seus produtos, se o fornecedor é socialmente responsável.
Para otimizar esse setor, cerca de 30 empresas criaram recentemente o Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), com o intuito de qualificar, fortalecer e disseminar o trabalho voluntário em empresas, institutos e fundações empresariais, uma iniciativa inédita no país. A secretária-executiva do conselho e presidente do Riovoluntário, Heloísa Coelho, fala com exclusividade ao Responsabilidade Social.com sobre esse movimento e avalia o espírito solidário do povo brasileiro.
1) Responsabilidade Social – O que é o Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), qual a proposta de trabalho do conselho e como ele atuará?
Heloísa Coelho – O Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE) reúne empresas, institutos e fundações empresariais, para discutir e examinar assuntos relacionados ao intercâmbio, divulgação, implementação e consolidação de conceitos, experiências e idéias relacionadas ao voluntariado empresarial. O objetivo é gerar conhecimento e prover a identificação de ferramentas de gestão, elaboração de indicadores de monitoramento e avaliação, e sistematização de práticas de Voluntariado Empresarial.
O CBVE é constituído por associados, um presidente e uma secretaria-executiva.
Para implementar a proposta do Conselho, foram criados quatro grupos de trabalho:
GT1 – Troca, registro e disseminação de Boas Práticas
GT2 – Estudos e Pesquisa (produção de conhecimento)
GT3 – Ações Conjuntas
GT4 – Programa Advocacy
2) RS – Qualquer empresa pode participar do conselho ou existem pré-requisitos?
HC – Segundo o regimento, empresas, fundações e institutos empresariais interessados deverão solicitar por escrito sua admissão, a qual será avaliada pelos associados.
3) RS – No ano passado a ONG Riovoluntário divulgou estudo que mostra que as empresas brasileiras têm implantado e incentivado cada vez mais programas de voluntariado. Essa iniciativa pode ser considerada uma estratégia de mercado? Por quê?
HC – Na verdade, há uma forte tendência da sociedade em geral de cobrar das empresas uma nova postura, mais cidadã, mais responsável social e ambientalmente. Já foi comprovado mundialmente que uma atitude responsável traz grandes benefícios, tanto econômicos quanto em termos de imagem, além de gerar grandes transformações também na gestão de pessoas da empresa.
4) RS – Como a senhora explica esse crescimento de empresas que adotam esses projetos de voluntariado no Brasil?
HC – É natural que boas práticas de gestão encontrem repercussão também no Brasil, principalmente quando trazem benefícios a todos os envolvidos: empresa, colaboradores, comunidade e sociedade em geral.
5) RS – Essa nova realidade é algo passageiro ou traz ganhos sociais concretos?
HC – A participação cidadã das empresas é um ganho para a sociedade e com certeza deverá continuar, pois ainda há muito a ser feito. As empresas que participam do CBVE estão muito preocupadas com a gestão, os resultados e inclusive com a difusão do trabalho voluntário como forma ativa e comprometida de cidadania.
6) RS – Quais os principais retornos para uma empresa que tem projetos de voluntariado estruturados?
HC – O Riovoluntário publicou no ano passado um estudo sobre o perfil do voluntariado empresarial no brasil. Os principais benefícios para as empresas apontados foram: melhora na imagem institucional da empresa, melhoria na relação da empresa com a comunidade, promoção do trabalho em equipe. Em seguida, também foram citados: melhoria no envolvimento/compromisso com a empresa, melhoria no clima interno e favorecimento da comunicação interna.
7) RS – Os funcionários que participam desses programas de voluntariado apresentam mais rendimento no trabalho? A relação deles com a empresa muda?
HC – O trabalho voluntário traz vários benefícios no relacionamento da empresa, que também incluem a relação do colaborador com a empresa. Quanto à produtividade, 56% concordaram plenamente e 39% concordaram parcialmente, que o voluntariado aumenta a motivação e produtividade dos funcionários. Por outro lado, a grande maioria (entre 85% e 96%) concorda plenamente que o voluntariado desenvolve entre os colaboradores: liderança, espírito de equipe, desenvolvimento de novos conhecimentos e descoberta novos talentos.
8) RS – Como a senhora avalia o espírito solidário do brasileiro. Somos um povo que tem uma atuação ativa como voluntários?
HC – Creio que o brasileiro é um povo de natureza solidária, porém atualmente há muitos fatores que dificultam ou inibem a difusão do voluntariado. Entre eles, o principal seria a falta de conhecimento sobre o voluntariado, seus aspectos jurídicos e demais informações, como tipo de trabalho, horários possíveis, aonde engajar-se, etc. Em seguida há fatores conflitantes como tempo livre disponível e o medo atual de atuar em locais considerados “de risco”.
9) RS – Para a senhora, como avançarão as ações de voluntariado empresarial no Brasil nos próximos anos?
HC – Creio que com certeza mais empresas investirão na implantação de programas de voluntariado empresarial. Aquelas que já possuem, estão preocupadas em melhorar a qualidade na gestão, detectar e replicar boas práticas, promover transparência e a participação da comunidade, monitorar e avaliar o impacto de suas ações.
10) Qual o seu entendimento pessoal do termo “responsabilidade social”?
HC – A princípio, “RSE é a responsabilidade social das empresas para com a sociedade”. Incluo a responsabilidade em buscar o desenvolvimento sustentável, a transparência (a prestação de contas à sociedade, inclusive aquela relativa a seus investimentos sociais), abrangendo todo o seu público interno e fornecedores, envolvendo e conscientizando também seu público de clientes e consumidores.
ONG Rio Voluntário – Site: www.riovoluntario.org.br – Tel.: (21) 2262-1110
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