
Ademar de Oliveira Marques
Especialista em Políticas Públicas e diretor executivo de Habitat para a Humanidade Brasil.
1) Responsabilidade Social – O que é? Quando e como surgiu a Habitat para a Humanidade? Qual é seu objetivo?
Ademar de Oliveira Marques – A Habitat para a Humanidade (HPH) é uma organização não-governamental sem fins lucrativos fundada em 1976, nos EUA após experiências e trabalhos missionários no sul da Geórgia (EUA) e no Zaire. A organização promove o desenvolvimento comunitário por meio da construção de soluções habitacionais simples, dignas e de baixo custo. A HPH tem projetos em mais de 100 países e conta com cerca de 200 mil moradias construídas em todo o mundo. Nossa missão é promover um habitat digno, por meio de um Fundo de Crédito Rotativo Solidário, interagindo com famílias, voluntários, parceiros e outras forças sociais.
2) RS – Quando a organização chegou ao Brasil?
AOM – A primeira ação que contou com a participação da Habitat Internacional no Brasil foi no atendimento a famílias desabrigadas por uma enchente, no bairro de São Gabriel, em Belo Horizonte (MG), a partir de um pedido feito por membros da Igreja Metodista a representantes da organização. A HPH orientou os membros da igreja a fundar um Comitê Local que assumisse responsabilidades de implementar um programa de soluções habitacionais para ajudar às famílias. Em 1987, com a organização desse Comitê, foi iniciado o primeiro projeto de HPH no Brasil, com a construção de 200 casas e remanejamento das famílias para o Bairro Liberdade, na divisa dos municípios de Belo Horizonte, Contagem e Ribeirão das Neves.
3) RS – De que forma HPH Brasil atua?
AOM – Atuamos no desenvolvimento comunitário integral e sustentável, realizando construção, reformas e melhorias habitacionais; construção de banheiros e cisternas; concedendo microcrédito produtivo e habitacional; promovendo educação financeira das famílias e educação para a cidadania. Estamos também envolvidos com a causa do direito à moradia digna. Apesar de ser reconhecido pela Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o direito social à moradia ainda não é assegurado a todos. Por isso, participamos de movimentos, fóruns e trabalhamos por melhores condições de moradia, saneamento. Nossa busca não é apenas pela moradia própria, mas pela efetivação de políticas que garantam direitos básicos, como à habitação de qualidade, à água e saneamento.
4) RS – Por que a organização fala que trabalha com soluções habitacionais, e não apenas com construção de moradias?
AOM – Nossa meta é incentivar a população de baixa renda a desenvolver processos de liderança na formação e desenvolvimento de sua própria comunidade de forma participativa e sustentável. Por isso, não visamos apenas a construção de casas; elas são apenas uma motivação inicial para organizar e mobilizar as pessoas em prol de um objetivo comum. A partir da união em mutirão para a construção das soluções habitacionais, os moradores de uma determinada região sentem-se motivados a transformarem suas realidades a partir do trabalho em conjunto, percebendo a importância do associativismo e da cooperação. O sucesso dos projetos de HPH está na colaboração mútua, que reduz custos, aumenta a produtividade, o comprometimento da comunidade e dos vários parceiros.
5) RS – Quais são as características e o custo médio das moradias construídas?
AOM – O modelo da casa padrão, que possui entre 38m² e 48m², é definido em conjunto com as famílias atendidas. Seu acabamento é feito respeitando o conceito de moradia simples, digna e de baixo custo. Adotamos as tecnologias de construção de acordo com a região atendida, que pode ser desde a convencional, com blocos de tijolo e cimento, até formas de construção acelerada, com placas de concreto pré-fabricadas. O custo médio de uma casa construída fica entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, dependendo da localidade e da tecnologia utilizada.
6) RS – De que forma as famílias pagam pela casa que recebem?
AOM – As prestações mensais pagas pelas famílias não comprometem mais de 20% da renda familiar e ficam entre R$ 35 a R$ 140. O valor da casa é pago em até seis anos e as mensalidades retornam ao Fundo de Crédito Rotativo Solidário, utilizado para viabilizar a construção de mais casas.
7) RS – De que forma as pessoas podem ajudar e se tornar voluntárias?
AOM – Procuramos estimular para que nossos voluntários atuem na construção de moradias populares em comunidades de baixa renda e se tornem agentes de transformação social em regiões com grande déficit habitacional. Contamos com voluntários corporativos e internacionais que regularmente participam de eventos de construção em mutirão. Temos um programa de voluntariado destinado especificamente aos jovens. Acreditamos que a participação da juventude é fundamental para que não só seja despertada a consciência sobre os graves problemas sociais em nosso país como também para que os jovens desenvolvam laços de solidariedade e responsabilidade.
8) RS – Além do apoio de voluntários, com que outros apoios a HPH conta?
AOM – Nós temos apoio de algumas empresas como Amanco e Caixa Econômica Federal, que fornecem recursos para o fomento de diferentes projetos. Contamos também com o apoio da El Paso, Hospital Moinhos de Vento e Citigroup em projetos específicos. Recentemente, conquistamos dois novos parceiros: Dow Química e Cisco Systems.
9) RS – Explique um pouco o que é a PHS.
AOM – A idéia de Produção Social do Habitat (PSH) tomou forma ao longo dos anos 70 na América Latina. Segundo conceito da Organização das Nações Unidas (ONU), os processos de desenvolvimento da PSH reconhecem o direito humano a ter uma moradia e a viver na cidade, como uma necessidade básica. Não trata, apenas, do simples acesso à habitação, mas da oferta de infra-estrutura, serviços públicos, espaços de educação, lazer e cultura para populações de baixa renda e que vivem à margem da esfera social. A PSH é viabilizada, principalmente, por meio de mutirões para a realização de melhorias nas comunidades e de ações políticas.
Site: www.habitatbrasil.org.br
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