Por Xaud, Farias e Vogel
Nas décadas de sessenta e setenta a participação juvenil da sociedade se concentrava nos movimentos estudantis, com um enfoque totalmente político-ideológico, partidarista, e com uma figura de poder envolvida em quase todas as suas atividades. Sob o prisma daquela época, um jovem que não tivesse nem demonstrasse alinhamento com alguma forma de pensamento era tido como um alienado. Entretanto, quando olhamos para o jovem de hoje, vemos uma situação bem diferente. Atualmente, o jovem que não tem o alinhamento exigido em outros tempos não está fora de um padrão cada vez mais comum na sociedade brasileira. Mas isso não quer dizer que ele seja um alienado e que não esteja preocupado com a situação social, política ou econômica do país. Pelo contrário, o jovem de hoje busca novas formas de se expressar e de participar ativamente da sua comunidade ou da sua sociedade. Através de grêmios estudantis – o movimento estudantil nem o partidarismo não foram deixados de lado, apenas passam a conviver com outras formas de participação –, movimentos ambientalistas, ações de assistência social, o jovem passa a ter mais contato com a realidade em que vive e começa a desenvolver um sentimento de participação e responsabilidade social que não vai, necessariamente, desaguar no ideário partidário.
Uma das formas que o jovem encontra para se manifestar e atuar na sociedade é o Protagonismo Juvenil, um conceito pedagógico que traz o jovem para a cena principal e em posição de igualdade, se não de destaque, ante a outros atores sociais. O jovem protagonista tem, por natureza, a não conformidade e a vontade de estar à frente, elaborando e executando projetos sociais para solucionar problemas que ele próprio observou e equacionou. O Protagonismo Juvenil, pode-se assim dizer, é o empreendedorismo social jovem. É a ação criativa e construtiva do jovem na sua comunidade ou sociedade; implica em uma postura pró-ativa frente a problemas sociais; um posicionamento mais enérgico e em busca de resultados; leva o jovem a tomar ante a vida uma atitude mais produtora do que consumidora de cultura, iniciativas ou mesmo de percepção da realidade.
Um grave problema encontrado pelo jovem que quer se engajar ou está engajado em causas sociais, seja individualmente ou em grupos, é a falta de capacitação, ou seja, falta de conhecimento técnico nas mais diversas áreas envolvidas no processo de organização, planejamento, execução e avaliação de suas ações, projetos ou atividades. O terceiro setor abriga entidades que oferecem cursos e oficinas visando o treinamento de profissionais preparados para enfrentar as dificuldades de uma instituição filantrópica. No entanto, o jovem, quando se dispõe a atuar em prol de uma causa social, normalmente não está buscando uma profissão, mas resolver um problema que ele identificou em sua comunidade, escola ou mesmo na sociedade em um sentido mais amplo. Além disso, os custos para a realização de cursos desse tipo são relativamente altos. Portanto, muito raramente o jovem fará parte do público de um curso como esses. Um outro grande problema que a participação ativa do jovem enfrenta é a pouca divulgação de eventos ou atividades relacionadas. Vários exemplos podem ser dados, como o Festival da Juventude, o Encontro das Tribos, o Encontro Nacional e Adolescentes, o Seminário Vem Ser Cidadão, entre outros em níveis nacional e local, grandes eventos que, por muitas vezes, não são veiculados pela grande mídia. A sociedade e, principalmente, o jovem sofrem em dois sentidos por não serem informados desse tipo de atividade. Primeiramente, não se entende o novo posicionamento da juventude enquanto sujeito pró-ativo e propositivo na resolução de problemas no âmbito social; em segundo lugar, o jovem vê extinta sua possibilidade de participação em espaços destinados a seu desenvolvimento e expressão.
A participação do jovem na comunidade e/ou na escola observa alguns números interessantes. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, na eleição de 2000, 43% dos adolescentes com idades entre 16 e 17 anos tinham o título eleitoral. Segundo a pesquisa A Voz dos Adolescentes, promovida pela UNICEF, outros 35% da população jovem já participaram de alguma atividade como associações comunitárias, discussões de problemas do bairro ou grêmios escolares. Destes, 13% disseram ter envolvimento com grêmios escolares. Entre os 67% de jovens que se consideraram voluntários, 16% já participa de ações voluntárias e 48% gostaria de participar mas não sabe como. Olhando-se especificamente para o Distrito Federal, observou-se a existência de muitos jovens, em diversas regiões, atuando em diversas áreas, como comunicação, meio ambiente, educação, saúde, entre outras, porém trabalhando de maneira isolada, sem comunicação. Com trabalhos já em desenvolvimento e alcançando resultados, os jovens protagonistas ainda pereciam de um ponto de referência onde pudessem encontrar um mínimo de apoio que proporcionasse a sensação de pertencimento e de não estar sozinho em sua luta. Dados obtidos na pesquisa publicada pela UNICEF, mostram situações relevantes quanto ao acesso do jovem à Internet. Entre os jovens entrevistados, 27% têm acesso à Internet, número que varia sensivelmente com a classe social. Na classe A encontramos até 72,4% da população de adolescentes com acesso à Rede, 52,3% na classe B, 20,8% na classe C e 12,9% dos adolescentes da classe D. Entretanto, no que se refere a sexo ou raça, o meio se mostra mais democrático, atingindo níveis equivalentes de acesso tanto a rapazes (27,6%) e moças (26,8%), como a indivíduos de origem branca (33,7%), negra (21,9%), parda (22,8%), amarela (26%) e indígena (16,2%), sendo estes últimos a única disparidade nos dados, ainda que não apresentando discrepância muito gritante.
A observação à que se quer dar maior relevância neste trabalho são os resultados quanto à idade da população com acesso à rede mundial de computadores. Dos adolescentes de 12 a 14 anos, 23,7% têm acesso à Internet, e 29,8% dos que têm entre 15 e 17 anos. Essa é uma grande massa de jovens em idade fértil para a atuação social e que, como será tratado adiante, possui grande vontade de participação, muitas vezes sem saber como ou onde começar. A referida pesquisa sugere ainda que a escola é uma instituição de referência para os adolescentes, alcançando, em determinadas regiões, níveis de importância igualados aos níveis da família. A região Centro-Oeste apresenta, junto com as regiões Sul e Norte, os maiores números de jovens que vêm a escola como importante referência na sociedade (96%). E a importância dada à escola varia muito pouco com a classe social, sexo ou raça. Além disso, 94% dos adolescentes entrevistados estão matriculados em algum estabelecimento de ensino.
Partindo desse contexto de estreitamento dos espaços já escassos de participação social do jovem, um trabalho de sensibilização, conscientização e mobilização, buscando-se maior engajamento da juventude é realizado por um grupo de jovens com idades entre 14 e 24 anos chamado Grupo Interagir. Formado em junho de 2000 na cidade de Brasília, o Interagir vem trabalhar no intuito de preencher essa lacuna nos modelos de referência do jovem protagonista. Inicialmente o trabalho consistiu da elaboração de um portal na Internet, o Portal do Protagonismo Juvenil, no endereço http://www.protagonismojuvenil.org.br. Nesse portal figurariam matérias e entrevistas feitas por jovens e para jovens, divulgação de projetos elaborados e executados por jovens, agenda de eventos relacionados à juventude e à participação, além de enquetes e textos para reflexão. Outrossim, o portal disponibilizaria textos de diversos autores abordando temas como elaboração de projetos e outros. Com esse trabalho espera-se atingir mais jovens no sentido de sensibilizá-lo para a importância de sua participação, de seu engajamento. Busca-se também mostrar ao jovem protagonista que existem outros jovens atuando em todo o Brasil, e isso pode o encorajar a seguir e melhorar seu trabalho. Após algum tempo trabalhando com o Portal, sentiu-se a necessidade de atuar de forma mais direta com os grupos protagonistas do Distrito Federal. Duas novas estratégias foram desenvolvidas: um fórum e uma equipe de suporte.
Os trabalhos de suporte incluem um trabalho realizado com um grupo de estudantes que desenvolviam um projeto social de assistência e educação com crianças carentes de cidade satélite de Brasília. Foi realizado um encontro com seus integrantes durante dois dias em regime de imersão, onde os jovens puderam refletir sobre a importância do papel que estavam desempenhando, diminuindo assim desentendimentos internos e fortalecendo o trabalho. Mais de 250 jovens participaram de mais de 10 palestras e oficinas em escolas públicas e particulares. Professores interessados em incentivar seus alunos a desenvolverem o espírito protagonista e empreendedor do social também são ótimo público, engrandecendo os debates e aprendendo a ouvir o jovem. Mais de 400 jovens presentes em dois Fóruns de discussões e proposições, além de adultos profissionais de educação, funcionários de governos e agentes do terceiro setor debatendo formas de participação da juventude na sociedade. Ao final da segunda edição do evento, através de formulário de avaliação, pôde-se ter noção da grande demanda por espaços dessa natureza. Aproximadamente 64% dos participantes responderam ser semestral a melhor periodicidade do Fórum, contra 36% que responderam anual e nenhuma resposta para a opção bienal. Mais do que isso, 87% dos jovens disseram entender que um evento de dois dias seria uma melhor opção do que apenas um dia, como responderam 13%.
A publicação do conceito de Protagonismo Juvenil, a divulgação de projetos elaborados e desenvolvidos por jovens, a veiculação de matérias voltadas aos interesses dos jovens, bem como a abertura de espaço para que o jovem se expresse são alvos atingidos em curto prazo pelo Portal do Protagonismo Juvenil. Em médio e longo prazo, no entanto, a tendência que vem se mostrando viável e factível é a de maior fortalecimento de um movimento de juventude, organizado e capaz de realizar grandes projetos de melhoria do bem estar comum, seja voltado para o próprio jovem, seja voltado para a sociedade como um todo. Uma desvantagem vista no meio Internet, é a baixa penetração em sociedades de baixa renda. Isso faz com que um projeto como o Portal apesar de barato e de fácil disseminação, não é o mais democrático, mais plural ou mesmo mais abrangente. Novas formas de chegar a determinados segmentos sociais devem ser constantemente repensadas e reinventadas, a fim de se ter uma maior penetração.
Membros do Grupo Interagir (DF) – Site: www.protagonismojuvenil.org.br
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