
Ricardo Rose
Por Ricardo Rose
O grau de desenvolvimento tecnológico de uma sociedade também pode ser medido pela quantidade de energia que consome. Países altamente industrializados utilizam muito mais energia, principalmente elétrica, do que países pobres e pouco industrializados. Todavia, o crescimento do consumo de eletricidade foi acompanhado pelo aumento da eficiência na utilização da energia gerada. Aqui é preciso lembrar que em todo o processo de geração e distribuição de energia já existe uma perda. Quanto mais longe as fontes geradoras dos centros consumidores – como Itaipú em relação às regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro – maior a perda. A isto se junte ainda aquelas perdas de energia causadas pelo uso de equipamentos industriais e produtos domésticos mal projetados, ineficientes e desgastados. Ou seja, da eletricidade gerada, apenas uma parcela é efetivamente aproveitada. O aspecto ambiental negativo desta situação é que grande parte da geração elétrica no Brasil provêm de hidrelétricas, cuja construção tem grande impacto ao meio ambiente, inundando grandes áreas e provocando deslocamentos populacionais.
As economias avançadas cedo programaram medidas de incentivo a eficiência energética, alcançando grandes resultados. Na Alemanha, a terceira maior economia do planeta, o consumo de energia caiu em 2,1% entre 1991 e 2002, enquanto a economia cresceu cerca de 20%. Para atingirmos o nível do Japão, por exemplo, precisaríamos diminuir em 60% o nosso consumo de energia e mantermos os mesmos níveis de produção industrial e serviços que temos atualmente. Parece algo contraditório para os padrões brasileiros, já que consideramos crescimento econômico igual a aumento de consumo de energia. A relação, evidentemente, não está incorreta, mas o impacto do aumento no consumo poderia ser reduzido com a introdução de medidas de eficiência energética específicas como investimento em pesquisa, modernização de equipamentos, treinamento de pessoal, conscientização pública e outros.
O mais conhecido programa de eficiência energética é o PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, criado em 1985 pelo Ministério das Minas e Energia e coordenado pela Eletrobrás. Como parte do programa criou-se o selo PROCEL, que tem por objetivo orientar o consumidor no ato da compra, indicando os produtos que apresentam maior eficiência energética. Outra medida foi uma Resolução do Ministério das Minas e Energia, que estabeleceu que as concessionárias de serviços de distribuição de energia devem destinar 0,5% de sua receita operacional líquida para aplicações em ações que tenham como objetivo o combate do desperdício de energia elétrica.
O Brasil ainda avança lentamente rumo a um uso mais eficiente de sua energia elétrica. A indústria, de maneira geral, ainda pouco se preocupa com o assunto, já que a simples mudança da matriz energética é somente parte da solução. Desta forma, no processo produtivo a energia – assim como a água e as matérias primas – é desperdiçada e a conta é paga pelo consumidor e pelo meio ambiente. O governo, por seu lado, também poderia fazer muito mais. Ainda há alguns meses, uma ONG (Organização Não-Governamental) internacionalmente conhecida sugeriu que o Brasil investisse menos em usinas hidrelétricas e termelétricas e mais em programas de eficiência energética e em energias renováveis. O Ministério das Minas e Energia descartou a sugestão como não pertinente.
O tema da eficiência energética se tornará cada vez mais importante. Se quisermos evoluir tecnologicamente necessitaremos cada vez mais de energia, já que automatização e informatização requerem altas doses deste insumo. Mas, para não precisarmos transformar o Brasil em um imenso parque de usinas hidrelétricas (ou termelétricas e nucleares, no pior dos casos), será preciso programar medidas de eficiência energética o mais rápido possível.
Ricardo Rose é Diretor de Meio Ambiente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. E-mail: mambiente@ahkbrasil.com
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