
João Beauclair
Por João Beauclair
Vivemos tempos cada vez mais complexos. Nosso planeta, por conta de um modelo de desenvolvimento que desconsidera a noção de unicidade, está em risco. A vida, em todas as suas dimensões, carece de cuidado, de zelo e sentimos, não poucas vezes, uma imensa angústia por pensarmos sobre o nosso futuro como espécie.
Num paradoxo absurdo, temos avanços surpreendentes em diversas áreas do conhecimento humano, mas possuímos também imensos problemas gerados pela injustiça, pelo abuso do poder, pela ignorância, pelas corrupções, pelo descaso, pela exclusão social ampliada com o processo de globalização econômica.
Vivemos tempos complexos por sabermos que ainda não são minimante respeitados os artigos presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborados e aprovados pela ONU em 1948 que é, a meu ver, um dos mais importantes documentos da História da Humanidade.
Vivemos tempos complexos, pois ainda há muito a fazer para que a dignidade humana seja alcançada e que nossas consciências sejam ampliadas para percebermos a importância de sabermos que estamos juntos, num ponto perdido na imensidão do universo, nessa viagem cósmica da Vida, que em nosso planeta gerou tantas belezas, tantas formas onde o humano é apenas mais um ser vivente que aqui se encontra.
Muitos autores, com seus artigos, livros, palestras, conferencias e ações pessoais nos alertam para a necessidade do surgimento de um outro modo de agirmos e pensarmos sobre todas essas questões e, em diferentes fases de nossas vidas, sempre tão efêmeras, todos nós somos seduzidos por uma determinada corrente teórica, por algum tipo de possibilidade de interlocução, de interpretação da realidade e suas diferentes maneiras de ser compreendida.
Surpreende-me, entretanto, a imensa resistência ainda presente nos meios acadêmicos, por exemplo, no que diz respeito às mudanças paradigmáticas, necessárias ao enfrentamento dos desafios que em nossa contemporaneidade tornam-se cada vez maiores.
As leituras e (re)leituras que tenho feito e refeito de autores tais como Leonardo Boff, Edgar Morin, Peter Senge, Ken Wilber, Roberto Crema, Ubiratan D`Ambrósio, Saturnino de La Torre, Paulo Freire, Maria Cândida Moraes, Jung Sun Mon, Rubem Alves, Darci Ribeiro, Humberto Maturana, Francisco Varela, entre outros, me fazem perceber que é preciso novos modos de sentipensar nossas relações com o mundo, com a família, com as instituições, com o nosso tempo.
Os avanços presentes nas novas tecnologias e nas neurociências, por exemplo, fomentam nossas dimensões do desejo para a crença de que haverá saída para a imensa crise civilizacional pela qual estamos passando. Entretanto, o pessimismo, a arrogância de alguns, os egos inflados, acabam por atrapalhar o melhor que podemos fazer: o encontro humano, a percepção de nossas interdependências, a compreensão de que somos todos passageiros nesse trem chamado vida e que, cada um, a seu modo, tempo e jeito, colabora, sente, pensa, age, vivencia e atua na dinâmica do estar vivo.
Em muitas das minhas ações profissionais, tenho chamado atenção das pessoas que comigo compartilham esses momentos de encontro, para o resgate de nosso humanismo, para a importância de todos na tarefa de resgatar valores como compaixão, solidariedade, amorosidade, fraternura e amizade, valores muitas vezes perdidos, esquecidos por conta de um tempo demasiado apressado, onde o olhar se distancia, se afasta da maior de nossas potencialidades: sermos de fato, seres humanos.
A perspectiva de fazermos uso de metáforas que facilitem esse encontro perpassa por uma escolha subjetiva e intersubjetiva, baseada numa modalidade de aprendência e ensinagem que tem colaborado com essas ações: o estajuntocom.
O imenso repertório presente em nossa herança cultural acumulada ao longo de todo o processo histórico que enquanto espécie vivenciamos favorece de modo ímpar as ações de desenvolvimento humano, as ações de educação ao longo da vida, colocando-nos numa posição de reflexão, de pensamento e de criação de formas novas de percebermos as múltiplas potencialidades presentes em cada um e em todos de sempre e melhor desenvolver nossas possibilidades de aprendizagem.
Fazer uso desse repertório, por nós herdado de nossos antepassados, é elemento primordial para o avanço em busca de novos rumos em educação. Tenho me permitido e me autorizado a fazer uso de tal herança, lançando-me de modo aberto, ao exercício da autoria de meu pensamento, com a clara intenção de compartilhar esse movimento e continuar a inserir-me no conjunto de sujeitos que estão no mesmo caminhar.
Em todo esse processo, movimentando-me para tal permanente inserção, tenho encontrado, principalmente, a manifestação da acolhida e percebido, de modo bastante claro, o quanto ainda temos que caminhar para a construção de percepções ampliadas para a inclusão, para a sustentabilidade, para a amorosidade, para o respeito em relação às diferenças.
Com isso, observo um novo tempo se configurando, ganhando forças, se nutrindo do sonho, da poesia, da utopia. Um novo tempo: um tempo de encontro. Com a experiência de conhecer a realidade do meu país, viajando por todas as nossas belas regiões brasileiras e dialogando com tantas e tantos ensinantes em cursos, conferências, consultorias e palestras, posso afirmar que estamos buscando, realizando esse tempo de encontro.
Profissionais atuando em suas escolas com uma proposição de fazer projetos pedagógicos mais amplos, inserindo questões atuais em seus conteúdos de trabalho, contextualizando nosso tempo com seus aprendentes, desenvolvendo movimentos de Artes, Literatura, Ecologia, Relações Humanas.
Profissionais envolvidos com os seus fazeres de um modo que muitos dos nossos governantes e políticos deveriam fazer: envolvimento com alma, com docilidade, com mansidão, com o desejo de colaborar com a evolução humanística de nossa espécie.
Profissionais que, com suas tantas limitações reais, ousam sonhar, desejar, planejar e fazer acontecer, apesar das inúmeras permanências da burocracia paralisante, do poder utilizado de modo autoritário, que não aceita a diversidade, que faz com que nosso tempo de espera seja maior do que deveria.
Caminhos da humanidade, rumos da educação. É preciso continuar a acreditar, é preciso ser resiliente, é preciso prosseguir.
João Beauclair é palestrante, escritor, consultor em aprendizagem, arte-educador, mestre em Educação, Psicopedagogo do Conselheiro Nacional Eleito, Assessor Regional Minas Gerais e Membro da Comissão de Divulgação da ABPp Associação Brasileira de Psicopedagogia Gestão 2008/2010 – Site: www.profjoaobeauclair.net
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