
Por Mauro Kahn
“O dia em que um quilo de picanha irá custar mais do que um MP4 ….”
Embora pareça um exagero, hoje já não é tão irreal uma afirmativa dessa dimensão. Quando colocamos o século XXI em perspectiva, notamos o quanto a banalização dos bens tecnológicos – cada dia mais desvalorizados – rivaliza com a crescente valorização dos recursos naturais, escarceados por crescimento desordenado e irresponsável do planeta nos últimos 100 anos. Não está, de fato, distante o dia em que um quilo de picanha custará mais do que um MP4.
Nesse novo cenário, os beneficiados serão naturalmente aqueles que contarem com um alto potencial de recursos naturais; dentre os quais se encontra, no topo da lista, o Brasil.
Até o final do século passado, acreditávamos que nossas reservas de petróleo e gás fossem modestas, e partíamos da falsa premissa de que somente o petróleo era um recurso natural de real valor. Hoje não há a menor dúvida de que, no futuro, mantendo-se as devidas proporções, a água terá tanto ou maior valor do que o petróleo.
Habituamo-nos a viver em um mundo no qual a tecnologia sempre foi erguida em um pedestal e onde os recursos naturais – entre eles o alimento – pareciam fonte inesgotável. Agora nossa grande crise é a luta para assimilar, aceitar e viver uma nova realidade.
Atualmente, sabemos que países como China e Índia, apesar de terem conseguido um expressivo desenvolvimento econômico (graças ao domínio da tecnologia industrial), já enfrentam graves problemas com a falta de água, e que isso tende a se agravar – a Ásia, além de apresentar o assustador desnível de 35% dos recursos hídricos do planeta contra aproximadamente 60% da população, apresenta um grau de poluição dos seus rios e águas subterrâneas que permanece incontrolável.
A agricultura e a indústria consomem grandes quantidades de recursos hídricos. O conceito de água virtual – água gasta na produção de outros bens – nos mostra que cerca de 6.000 litros são necessários para que apenas um quilo de frango chegue à nossa mesa.
É nesse ponto que as expectativas em relação ao Brasil disparam: com recursos hídricos em fartura e inúmeras fontes de energia (petróleo, gás, hidroelétrica, etc…), o país tem tudo para se transformar no maior exportador de alimentos do mundo. Com apenas 20% de suas terras aráveis plantadas, a situação brasileira é única no mundo.
E as possibilidades não param por aí. Em território nacional, o nível de insolação é espétacular, podendo assegurar excelentes safras e, futuramente, a promissora energia solar.
Mauro Kahn é advogado e administrador de empresas, diretor e fundador do Clube do Petróleo, gerente executivo das pós graduações da Coppe, em petróleo MBP-COPPE e em meio ambiente MBE-COPPE. Foi administrador na Shell Brasil entre 1988 e 1996. Kahn é especializado no setor de petróleo e em meio ambiente, sendo o autor dos livros Sumário do Direito Ambiental na Indústria do Petróleo e Gerenciamento de Projetos Ambientais, Riscos e Conflitos. Kahn é também analista em Geopolitica do Petróleo e autor de inúmeros artigos, muitos deles apresentados no site do Clube do Petróleo (www.clubedopetroleo.com.br).
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