
Ricardo Barros formou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Concluiu pós-graduações em Engenharia do Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Tecnologia da Informação (Chief Information Officer – CIO) pela Universidade Cândido Mendes, Controle de Poluição Industrial pela Japan International Cooperation Agency – JICA (Japão), Auditoria Ambiental (Foundation Level Environmental Auditor Training Course with Continuos Assessment & Examination) registrado pela Environmental Auditors Registration Association – EARA – Batalas Limited (Reino Unido) e, em 2002, concluiu a capacitação para Consultor em Produção Mais Limpa pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas – CNTL-Senai/RS. Atualmente, presta consultoria ambiental industrial para empresas brasileiras. Em entrevista ao Responsabilidade Social.com, Ricardo fala sobre a polêmica em torno de empresas poluidoras, sobre transgênicos e analisa a situação do Terceiro Setor no Brasil. Confira:
1) Responsabilidade Social – Como ocorreu a sua especialização em consultoria ambiental industrial?
Ricardo Barros – Em 1991, aceitei o convite do SESI Nacional para implantar diversos serviços ambientais no Centro de Higiene e Segurança Industrial, localizado no Rio de Janeiro desde sua fundação em 1968, para ser apresentado à comunidade industrial durante a ECO Rio 92. Naquela ocasião, definitivamente, estava dando um novo passo para a minha carreira de biólogo marinho.
2) RS – Como o senhor define o conceito de Responsabilidade Social?
RB – A responsabilidade social sempre foi praticada por cidadãos e empresas que entendem a sua importância na melhoria do nosso país. Nos últimos 12 anos em que estive envolvido diretamente nas atividades ambientais das indústrias brasileiras, notadamente no Rio de Janeiro, pude presenciar a adesão sincera de centenas de empresas que influenciaram, direta ou indiretamente, ações de melhoria da qualidade de vida das comunidades onde estão inseridas.
3) RS – O Brasil é um país que tem um empresariado socialmente responsável?
RB – Atualmente todo empresário honesto e em boas condições financeiras está, permanentemente, estudando novas formas de participar de projetos ambientais e sociais. É sempre um bom negócio para todos.
4) RS – Em quais grandes projetos o senhor se envolveu?
RB – Tenho muito orgulho de ter começado minha vida profissional como pesquisador no Projeto Cabo Frio, em Arraial do Cabo (RJ), sob a direção científica do Alm. Paulo Moreira, um dos mais notáveis oceanógrafos do mundo. Já na área industrial, foi um privilégio ter sido o responsável pelos projetos de modernização do Centro de Higiene e Segurança Industrial em 1992, transformando-o no Centro SESI de Tecnologia Ambiental, e em 2001, quando esse centro foi novamente modernizado e ampliado, sendo considerado uma das mais modernas instalações laboratoriais do país, sob a direção da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro – FIRJAN.
5) RS – O projeto de reaproveitamento dos pneus, por exemplo. Como funciona? É possível transformar uma empresa que, potencialmente, polui o meio-ambiente em uma empresa socialmente responsável?
RB – Com a formidável multiplicação dos automóveis nas últimas décadas os pneus utilizados se transformaram numa dor-de-cabeça ambiental para os países industrializados. Desde a Convenção da Basiléia, da qual o Brasil é signatário, o país proibiu a importação de pneus usados, utilizados como pneus de segunda-mão. Recentemente, o governo brasileiro aprovou lei autorizando a entrada desses pneus no país, sensibilizando-se pelas vantagens econômicas defendidas pelas grandes transportadoras e cooperativas de táxis. Entretanto, medidas eficientes também estão sendo adotadas para a redução de pneus, como a obrigatoriedade de retorno dos pneus usados para os seus fabricantes e as inúmeras tecnologias de reciclagem e aproveitamento energético dos pneus.
6) RS – E o projeto de reciclagem de entulhos de obras? É possível ter responsabilidade social num setor tão pouco dedicado a ações deste cunho, como é o caso da construção civil?
RB – As empresas de construção civil sempre acreditaram que pelo fato de empregarem grandes contingentes de trabalhadores já cumpriam sua parte. Atualmente, pela forte concorrência e escassez de recursos, as empresas estão melhorando consideravelmente seus padrões produtivos e, por conseguinte, os ambientais e sociais. O melhor exemplo são os programas de Produção mais Limpa nos canteiros de obra. Reduzindo os desperdícios na fonte e treinando melhor seus colaboradores, as empresas puderam constatar que os resíduos não têm valor de resíduos, mas sim valor das matérias-primas, pois foram adquiridas como tal. Com a economia gerada na redução dos desperdícios, as empresas de construção civil estão em condições de treinar e pagar melhor seus colaboradores, melhorando a distribuição de renda no setor.
7) RS – De uma forma global, o que diferencial uma empresa que investe em responsabilidade social de uma outra que não trabalha este conceito?
RB – Empresas engajadas em programas de cunho social ou ambiental são mais confiantes e seguras da qualidade dos produtos e serviços que oferecem. Logo, o mercado as perceberá melhor.
8) RS – Como consultor da área ambiental, o que o senhor pensa sobre o uso de sementes transgênicas no Brasil?
RB – Eu tenho uma opinião ambiental e outra econômica. Na época em que me tornei biólogo, a vanguarda ambiental estava denunciando bravamente a ignorância, a irresponsabilidade e os crimes ambientais praticados pelos governos e empresas. Dentre eles, o desmatamento acelerado e contínuo das nossas florestas para a instalação de uma agricultura atrasada. E ainda, todos sabemos que a percepção da infinidade de espaços e recursos naturais que o brasileiro tem do seu país foi responsável pela situação que nos encontramos. Mais tarde, as denúncias deram lugar para as soluções técnicas. Desse ponto de vista, sou favorável a técnicas de plantio que reduzam a sua extensividade. Os avanços tecnológicos na geração de sementes transgênicas ajudarão na maior produtividade das áreas cultivadas, reduzindo a pressão por novas áreas e, como conhecido, a maior oferta de alimentos. Para a economia brasileira, sou da opinião que no caso da soja a nação precisará decidir se quer participar do mercado transgênico, produzido largamente no mundo, ou da soja natural, que vem crescendo nos países que estão dispostos a pagar mais por um produto limpo ambientalmente. Como não somos grandes consumidores de soja, ficaria com a segunda opção.
9) RS – De que maneira o governo pode realizar ações que contribuam para a disseminação da responsabilidade social entre o empresariado brasileiro?
RB – Criando mecanismos de estímulo fiscal e financeiro para as empresas voluntárias. Com isso, as empresas se sentirão reconhecidas por participarem de ações que sempre foram da responsabilidade dos governos e nunca conseguiram atingir resultados satisfatórios.
Site: www.cyclos.com.br – E-mail: ricardo@cyclos.com.br
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