
Alfabetização: chave para a cidadania
Em 1991, a PaulOOctávio Investimentos Imobiliários, empresa da área de construção civil em Brasília, lançou um projeto muito pouco provável para o contexto daquela época: o “Alfabetização nos Canteiros de Obras”. Segundo a direção da construtora, o intuito era investir no homem, para obter melhor excelência em seus produtos. Naqueles anos, as outras empresas de construção civil voltaram todos os investimentos para a aquisição de novas tecnologias. Realidade que até hoje persiste, conforme é comprovado em recente pesquisa sobre a “Ação Social das Empresas”, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Os resultados mostram que as empresas da área de Construção Civil são as que menos investem em ações sociais: “Comparando-se a atuação nos diversos setores econômicos, a agricultura sai na frente: 75% das empresas do setor declararam realizar ações em benefício de comunidades carentes. A contribuição das empresas dos setores de comércio (52%) e serviços (49%) ficou próxima à média regional (50%). Já os setores industrial e de construção civil apresentaram participação mais modesta, em torno de 40%.”
Porém, com o passar dos anos, a estratégia adotada pela empresa mostrou ser a melhor possível, tanto em termos de retornos financeiros e de qualidade final dos produtos, quanto em termos de confiança e admiração do seu público. Hoje, contabiliza um faturamento anual de mais de R$ 200 milhões ao ano e é a marca mais procurada no mercado brasiliense. “Os acidentes de trabalho diminuíram drasticamente, uma vez que os operários puderam ler os avisos de segurança e tornaram-se cidadãos bem mais conscientes”, explica Bartolomeu Estrela, coordenador do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) da PaulOOctávio.
Nos últimos 12 anos, mais de dois mil operários foram alfabetizados no seguinte esquema de funcionamento: os funcionários param de trabalhar uma hora antes do final de sua jornada diária de trabalho, que é paga normalmente pela construtora. O aluno, por sua vez, cede uma hora a mais do seu dia para que a aula possa ter duas horas de duração, sempre de segunda a sexta-feira, durante o período que varia de 12 a 18 meses. O material didático é cedido pelo Serviço Social do Distrito Federal (Seconci/DF), enquanto que a contratação (salário e vale-transporte) dos professores, o jantar oferecido depois da aula aos alunos e as instalações físicas são custeados pela empresa.
Diante desta experiência, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, lançou ao fundador da construtora, Senador PaulOOctávio (PFL), o desafio de tornar o “Alfabetização no Canteiro de Obras” um projeto de lei, que visa estabelecer a obrigatoriedade de implantar salas de aula em todos os canteiros do país. “Se todos os empresários da construção civil seguirem este exemplo e transformarem cada canteiro de obra em uma escolinha, tenho certeza que o Brasil irá mudar substancialmente”, disse Cristovam, em visita à empresa.
Desde então, o projeto vem sendo debatido com diversos empresários e entidades patronais do setor. A fase atual é de audiência pública, que ocorre por meio do recolhimento de sugestões para a confecção da redação final do projeto de lei. “É preciso mostrar à indústria da construção civil o quanto é fácil e barato investir em educação”, diz o senador Paulo Octávio. De acordo com ele, o custo de um operário inscrito no curso de alfabetização (considerando salário de professor, material escolar e uma hora de dispensa por dia da jornada de trabalho) é de R$ 140 mensais aproximadamente.
“É um valor muito pequeno, tendo em vista as vantagens que o programa ocasiona para a própria empresa”, declara o senador. O ministro Cristovam garante, por sua vez, que o MEC fornecerá os professores para o projeto, contratando 10 mil alfabetizadores pelo programa Primeiro Emprego do Ministério do Trabalho e buscará outros 30 mil oferecendo bolsas de estudos do MEC para universitários.
Site: www.paulooctavio.com.br
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