
Ricardo Young, Instituto Ethos, em um dos encontros da norma ISO 26000
A comunidade internacional está animada com a possibilidade de uma norma sobre responsabilidade social. O Brasil tem mais ainda que se orgulhar. Um brasileiro desempenhará papel crucial nessa discussão. Leia a seguir.
Brasil já dava passos largos no sentido de normatizar o universo de certificados e orientações sobre responsabilidade social empresarial. Um dos primeiros passos foi a proposta da ABNT de lançar a norma NBR 16001 de responsabilidade social. A norma visava então prover às organizações os elementos para um sistema de gestão de responsabilidade social eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos relacionados com aspectos ambientais, econômicos e sociais.
Além da norma NBR 16001, alguns especialistas em responsabilidade social passaram a discutir uma proposta de cunho mais amplo. Por que não propor uma norma internacional – a exemplo das já existentes ISO 9000 (qualidade) e 14000 (meio ambiente) – chancelada pela Organização Internacional de Normatização (ISO na sigla em inglês)
Com essa idéia em mente, um grupo de empresas e instituições preocupadas em garantir um mínimo de coerência a iniciativas que visem enraizar a prática da responsabilidade social na gestão diária de empresas, propôs a criação da norma ISO 26000. A norma, ainda em discussão, servirá para estabelecer um padrão internacional para implementação de um sistema de gestão e certificação de empresas quanto ao quesito responsabilidade social. A norma tem por objetivo principal estabelecer os requisitos mínimos relativos a um sistema da gestão da responsabilidade social, permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e outros, seus compromissos éticos e sua preocupação com a promoção da cidadania, do desenvolvimento sustentável e a transparência das suas atividades.
O Brasil tem se destacado internacionalmente neste debate. Pela primeira vez na história da ISO, o comitê de elaboração de uma norma está sendo presidido por um brasileiro – o baiano Jorge Cajazeira, que é gerente de excelência empresarial da Suzano Bahia Sul.
A primeira reunião para discutir a ISO 26000, norma internacional de responsabilidade social, aconteceu em março de 2005 na cidade de Salvador. Na reunião estiverem presentes mais de 300 representantes de 45 países oriundos da indústria, governos, universidades e sociedade civil organizada.
O maior desafio encontrado havia sido de tornar a responsabilidade social um valor mais enraizado na estratégia e nas atitudes empresariais, ao invés de um simples conjunto de ações de cunho social e filantrópico.
Em seguida, em agosto de 2005 em Bangkok na Tailândia, ocorreu a segunda reunião que aperfeiçoou as primeiras ações rascunhadas em Salvador. Conforme Jorge Cajazeira, “obter consenso sobre o que pode ser chamado de responsabilidade social é a maior dificuldade”. “A idéia é ocupar um espaço que não existe. Muitas empresas não sabem como se relacionar com o governo e ONGs, nem como incluir deficientes e minorias, por exemplo”, complementa Jorge Cajazeira.
A discussão promete. Recentemente, em maio deste ano em Lisboa, o grupo de trabalho se reuniu novamente e fez avanços consideráveis. Entre os avanços, os mais notáveis se referem aos progressos na estrutura da norma. A ISO 26000 articulará três tipos de princípios na seção a eles dedicada. O primeiro serão os princípios gerais, como o de respeitar convenções e declarações internacionais. O segundo refere-se ao conteúdo da norma, como meio ambiente, direitos humanos, e assim por diante. E o terceiro, princípios de operacionalização, englobando a transparência e a relação com partes interessadas, entre outros.
E agora, quais os próximos passos? Vamos acompanhar a próxima reunião em fevereiro de 2007 em Sidney na Austrália. Na enquete de nossa edição passada, 55,4% dos participantes se declararam otimistas em relação à aprovação da norma. Outro indicativo importante é o fato de que, da assembléia de Salvador, em março de 2005, ao recente encontro na capital portuguesa, os países envolvidos pularam de 43 para 64, enquanto os especialistas saltaram de 225 para 315, o que demonstra mais uma vez o interesse da comunidade internacional na busca de um consenso mínimo sobre responsabilidade social empresarial (RSE)
Leia mais sobre as discussões sobre a norma ISO 26000 de responsabilidade social no link do grupo de trabalho do Instituto Ethos sobre o tema: ead.uniethos.org.br/gtiso26000/2/newsletterGTISO-ed2.html
Também nessa Edição :
Perfil: Regina Esteves
Entrevista: Patrus Ananias (2006/10)
Artigo: Investimento social, muito além do assistencialismo
Notícia: O que deu na mídia (edição 37)
Notícia: A responsabilidade social na gestão de crises
Notícia: Pelo direito de ser igual
Notícia: Como as empresas do DF vêem a responsabilidade social empresarial?
Oferta de Trabalho: Procura-se (11/2006)
Leave a Reply