No dia 13 de janeiro de 1998, um telefonema da Bahia iria mudar a vida da educadora Andréa Ambrósio e de algumas centenas de presidiários e de famílias carentes. Do outro lado da linha, uma voz avisava que seu irmão Frederico Ambrósio havia sido assassinado. Fred, como era chamado pelos familiares, havia ficado por dez anos preso em Minas Gerais e nos últimos quatro anos havia se recuperado.
“Fiquei seis meses em depressão profunda por causa da morte do Fred. Vivia à base de remédios. Um dia ouvi um chamado me falando que era para me levantar e ir ajudar os outros Freds”, conta Andréa Ambrósio. Os outros Freds em questão eram internos das penitenciárias do Estado. Nascia assim a organização não governamental Projeto Fred, que primeiro começou a ensinar internos de penitenciárias a produzir tapetes, na chamada oficina trama sem nó.
Depois, Andréa levou o projeto também para comunidades carentes da Região Metropolitana da Grande Belo Horizonte, portadores de HIV, dependentes químicos, que também são ensinados a produzir tapetes, e adolescentes e crianças, que contam com oficina de street dance.
Na verdade, o Fred não nasceu nesse momento, já que Andréa Ambrósio começou, de fato, a idealizar o projeto quando ia visitar, semanalmente, o irmão na prisão. Condenado por tráfico de drogas, Fred tentou várias fugas, passou por sofrimentos e tentou suicídio. Andréa, a cada visita ao irmão, conhecia não só a história que se delineava com Fred, como também a realidade e a história de vida de cada um dos internos que ocupavam a mesma cela.
“Eram visitas muito interessantes. Não tinha carro na época e todo domingo era religioso ir visitar meu irmão. Eu levava comida (enlatados e pacotes de arroz, feijão, macarrão, entre outros) para todos eles num saco de linhagem enorme. E levava muitos livros”, conta Andréa Ambrósio.
Foram nessas visitas que Andréa descobriu que o outro “pão” que os internos necessitavam era de algum trabalho em que pudessem mostrar, com dignidade, uma outra visão de pessoas que vivem em presídios no Brasil. “Acredito que essas pessoas têm de ter condições de se recuperarem, de manter a sua família e dignidade. Os presos enfrentam uma dupla pena: primeiro têm a grade dentro da prisão e depois uma outra, quando estão em liberdade, que os segregam da sociedade por terem sido internos em penitenciárias”, diz Andréia.
Até o ano passado, havia participado da oficina do Projeto Fred 1.500 internos de penitenciárias como Nelson Hungria (Contagem), Dênio Moreira (Ipaba/MG), de Juiz de Fora e Penitenciária Feminina de BH. Além disso, o projeto já beneficiou 846 famílias, 435 adolescentes, 253 crianças, 94 idosos, 76 portadores do vírus HIV e 45 dependentes químicos da Grande Belo Horizonte. Todo o material utilizado pelos participantes da oficina é distribuído gratuitamente. O Projeto Fred conta com o patrocínio das empresas V&M e MBR. Neste ano, o Projeto Fred inaugurou sua sede própria, onde pretende ampliar o número de oficinas.
Site: www.projetofred.org.br – E-mail: projetofred@projetofred.org.br – Telefone: (31) 3369-0299
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