
Sergio Amoroso
Sergio Amoroso é fundador, principal acionista e presidente do Grupo Orsa, conglomerado empresarial de capital 100% nacional e uma das maiores companhias de celulose, papel para embalagens, chapas e embalagens de papelão do país. Ele é o responsável pela criação da Fundação Orsa, em 1994, entidade sem fins lucrativos que recebe 1% do faturamento anual bruto das empresas do Grupo Orsa para desenvolvimento de projetos sociais nas áreas de Saúde, Educação e Promoção Social.
A fundação realiza mais de 1 milhão de atendimentos/ano a crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social. Além de presidir o grupo, Sergio é vice-presidente da Associação Internacional pelo Direito da Criança Brincar, presidente do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, organização não-governamental sediada em São Paulo (SP), membro do Conselho Consultivo do Centro de Voluntariado de São Paulo e da Rede Saci, que trabalha com pessoas com deficiência visual, entre outras atividades.
Sergio já foi reconhecido em diversos prêmios como Prêmio Eco, Guia Exame de Boa Cidadania Corporativa e Empreendedor Social do Ano (2001). No ano passado foi um dos premiados pelo jornal O Globo, com o prêmio Faz Diferença, na categoria Razão Social.
Entre um trabalho e outro, Sergio Amoroso falou com exclusividade com o Responsabilidade Social, sobre as atividades do Grupo Orsa na área de responsabilidade social empresarial, “marketing verde” e as metas para este ano.
1) Responsabilidade Social – Em 26 anos de atividades, o Grupo Orsa transformou-se num forte conglomerado empresarial, com grande atuação nacional e internacional. Como a empresa combina sucesso econômico e responsabilidade social?
Sergio Amoroso – Desde a sua fundação, o Grupo Orsa orienta sua atuação e seu crescimento por valores ligados à sustentabilidade. Embora o conceito de atuação sustentável tenha conquistado destaque somente nos últimos anos, seus princípios já permeavam as iniciativas do grupo desde a origem, a partir de uma pequena cartonagem na zona leste de São Paulo. O grupo começou a se expandir em 1986, quando construiu uma planta para a produção de chapas e embalagens de papelão ondulado, em Suzano (SP). Em 1994, criou a Fundação Orsa para organizar a atuação do grupo na área socioambiental, numa visão de respeito às pessoas e ao planeta. Passo a passo, unidades fabris e reservas florestais no Sudeste, no Centro-Oeste e no Norte do país foram integradas ao grupo, sempre seguindo a lógica da sinergia entre os negócios e do respeito ao meio ambiente, propondo novos modelos de gestão e de responsabilidade social corporativa. Hoje, a Fundação Orsa está no centro estratégico da gestão de sustentabilidade do grupo. Sua função primordial é desenvolver e disseminar tecnologias sociais em quatro linhas de atuaçã saúde, educação, geração de emprego e renda e promoção de direitos humanos.
2) RS – Para definir sua filosofia de Responsabilidade Social Empresarial, a companhia incorpora o conceito dos “3 Pês” (Lucro, Pessoas e Meio Ambiente), amplamente utilizado por empresas européias e elaborado pela Comissão Mundial para o Desenvolvimento do Meio Ambiente. Na prática como isso funciona?
SA – Ao longo dos anos, o tripé da sustentabilidade, ou os 3Ps (sigla em inglês): people (pessoas), profit (lucro) e planet (planeta), ganhou cada vez mais força na estratégia corporativa. Para o Grupo Orsa, o desenvolvimento dos negócios deve ser um fator de transformação da sociedade, por meio de ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. O compromisso com os funcionários, a cooperação com os fornecedores, o apoio às comunidades e a preocupação com o meio ambiente norteiam todas as decisões de negócios.
Pensamos e agimos em nosso dia-a-dia com esse modelo na cabeça. Atualmente publicamos nosso Relatório de Sustentabilidade seguindo os princípios do GRI (Global Report Iniciative), que orienta empresas como se posicionar no que diz respeito às suas práticas comerciais, sociais e ambientais. Toda a adequação a esse modelo influenciou nossos processos e rotinas no caminho da transparência e da manutenção de práticas sustentáveis.
3) RS – Como o senhor define o conceito de Responsabilidade Social?
SA – Quando se fala em responsabilidade social hoje, quase sempre se fala de atividades pontuais, negócios ou ações específicas. Já quando pensamos em sociedade sustentável, a referência é o todo, o global. Pensar em sociedade sustentável leva a uma visão ampliada da sustentabilidade. Não basta se limitar ao entorno dos negócios e dos projetos sociais – nós olhamos mais além. Pensamos, por exemplo, em outras regiões, nas quais não fazemos negócios, mas onde projetos e modelos criados na fundação possam ser replicados. Pensamos em modelos de atuação que possam contribuir para outras empresas que estão como nós, na busca do equilíbrio. Para que uma sociedade sustentável se mantenha de pé, você tem que dar a importância necessária aos 3 fatores dos 3Ps (people, profit e planet).
4) RS – Em 1994, o grupo criou sua empresa social, a Fundação Orsa. Quais são as principais atividades desenvolvidas por ela e qual a abrangência da sua atuação?
SA – Criada em 1994 pelo Grupo Orsa, muito antes que conceitos como responsabilidade social e empresa-cidadã se destacassem com o vigor dos dias atuais, a Fundação Orsa é uma instituição atuante no desenvolvimento de programas e projetos sociais. Sua principal fonte de divisas é o chamado Recurso Semente, contribuição fixa de 1% do faturamento bruto das empresas do grupo, que independentemente do resultado financeiro faz o repasse como mostra de seu compromisso com o desenvolvimento sustentável. Constituída como instituição sem fins lucrativos, a Fundação Orsa direcionou suas primeiras ações na formação integral da criança e do adolescente. Ao longo dos anos se especializou no desenvolvimento de tecnologias sociais nas áreas de educação, saúde, geração de emprego e renda e garantia de direitos. Hoje, também foca suas ações no fortalecimento de políticas públicas e no desenvolvimento sustentável de territórios, por meio de um modelo que integra iniciativas ligadas aos âmbitos produtivo, social, ambiental e humano.
5) RS – Qual a política de responsabilidade social interna da empresa?
SA – Além das ações desenvolvidas pelo departamento de Recursos Humanos que beneficiam nossos funcionários, buscamos envolvê-los nas ações sociais desenvolvidas pela empresa. Um bom exemplo dessa prática é o Programa de Voluntariado. A idéia é incentivar que todos os colaboradores sugiram e dediquem seu tempo em ações sociais. O fato de terem contato com a realidade da comunidade em que estão inseridos dá noção da dimensão e das necessidades da região.
Um exemplo da atuação do voluntariado da empresa foi a realização do Projeto Caroço do Açaí. Um grupo de voluntários realizou na fábrica do Jari testes na caldeira da fábrica de celulose e comprovou o alto poder calorífico do caroço, que pode ser usado para produzir um combustível alternativo. Além de mais barato, ele emite menos gás carbônico que os derivados do petróleo. Em dois anos, a empresa reduziu o consumo de óleo derivado de petróleo em mais de 300 mil quilos. A articulação do voluntariado promoveu também benfeitorias nas áreas das batedeiras de açaí – local de beneficiamento da fruta – como aterros nos arredores e fornecimento de madeira para a reforma dos equipamentos. O projeto possibilita ainda a geração de diversos empregos temporários, na coleta, na carga e no transporte dos caroços, conforme os ciclos de produção e colheita.
6) RS – As empresas brasileiras têm um desempenho satisfatório na área de Responsabilidade Social Empresarial? O que pode ser melhorado?
SA – O Brasil tem crescido muito nessa área e apresentado modelos inéditos para a prática da Responsabilidade Social Empresarial. O que falta, no entanto é transparência. As empresas precisam investir em marketing claro, mas devem estar embasadas na verdade e na transparência de seus atos.
Um exemplo do engajamento das empresas brasileiras em relação às práticas de sustentabilidade foi o lançamento no final do ano passado do Fórum Amazônia Sustentável – uma iniciativa de empresários e líderes sociais que possuem atuação na região e que pretendem construir as pontes que possibilitam pensar na existência de um futuro sustentável para a maior floresta tropical do planeta. O Grupo Orsa e outras empresas da iniciativa privada já aderiram ao Fórum, além de ONGs tradicionais da região como a Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e o Greenpeace.
7) RS – Na sua opinião, a crescente incorporação de atividades sócio-responsáveis pelas empresas nacionais se deve a uma conscientização cidadã ou é uma estratégia de negócios?
SA – É difícil separar esses dois fatores. No início da concepção da Fundação Orsa, nós olhávamos o negócio separado do social e do ambiental. Aprendemos, no entanto que eles devem estar interligados para que haja um equilíbrio. Para ilustrar nosso ponto de vista, utilizamos o fato de investirmos na certificação de 545 mil hectares na Amazônia, a segunda maior área certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC). Nossas atividades devem seguir rígidos métodos que favoreçam o uso racional dos recursos naturais. Essa conduta colabora para a manutenção da integridade da floresta e cria modelos de boas práticas que podem ser replicados. Por outro lado, esse comprometimento com a sustentabilidade, apoiado por novos processos e tecnologias, permitiu a expansão no mercado internacional, com a conquista de novos clientes na Ásia, na América do Norte e na Europa.
Embora a madeira certificada custe acima de 20% a mais do que o produto de procedência ignorada, a procura por ela vem aumentando nos últimos anos, graças a crescente consciência ecológica dos consumidores.
8) RS – Hoje a maior área certificada da Amazônia, quase um milhão de hectares, pertence ao Grupo Orsa. A procura por materiais produzidos de forma sustentável mudou nos últimos anos? Como o senhor avalia esse mercado?
SA – Utilizar os recursos naturais em favor do desenvolvimento, sem comprometer a sua disponibilidade para as gerações futuras, é a premissa do Grupo Orsa na gestão de florestas nativas no Vale do Jari. Para tanto, foi criada em 2003 a Orsa Florestal, referência global no trabalho com a floresta tropical. A empresa desenvolve o manejo sustentável em área certificada pelo FSC e administra 92 mil hectares que formam uma área de preservação absoluta.
Aproveitando a demanda internacional por madeira certificada, a empresa ampliou o portfólio de produtos beneficiados, que passou a incluir aplainados, deckings e tapumes. A Orsa Florestal também passou a comercializar um maior número de espécies. Ao todo, explora com autorização do IBAMA a madeira de 26 variedades de árvores, algumas delas ainda pouco conhecidas pelo mercado, como tanibuca, timborana e pequiarana.
9) RS – Além de presidir o Grupo Orsa o senhor também é conselheiro do Centro de Voluntariado de São Paulo, fundador do WWF Brasil, membro do Conselho Político Estratégico da Escola de Formação de Empreendedores Sociais, entre outras atividades. Como o senhor administra tantas funções e quando descobriu que gostaria de atuar na área social?
SA – Depois de ver o Grupo Orsa consolidado (após nove anos de existência a empresa tinha alcançado o triplo da dimensão estimada), o lado profissional pedia por mudanças. Após um ano e meio de indagações e reflexões, surgiu a decisão de trabalhar de forma diferente, de idealizar uma fundação e começar então o processo de interação com a sociedade em todos os seus aspectos – humano, econômico e ambiental.
Precisamos pensar um pouco diferente. Não explorar apenas pensando no lucro, sem saber que existem milhares de pessoas que vivem sem as mínimas condições. É preciso perceber que tudo tem impacto no outro, inclusive o lucro concentrado.
10) RS – O que a Fundação Orsa faz para evitar cair no lugar comum/tentação de investir em práticas de responsabilidade social apenas com o intuito de capitalizar sobre o marketing que tais ações geram?
SA – Existe uma separação muito clara na empresa de quais são os interesses comerciais da empresa e o que é responsabilidade da Fundação Orsa. O grupo tem uma política de comunicação muito discreta, focada no B2B. Nossos esforços de marketing não afetam o consumidor final. Jamais a fundação foi usada como estratégia comercial, por isso, conquistou o reconhecimento do mercado. Quando divulgamos nossas ações sociais, a intenção é fomentar parcerias e servir de exemplo para outras organizações. É claro, que isso indiretamente afeta positivamente a reputação de nossas empresas, mas, de forma alguma, esse é o objetivo principal.
O próprio modelo inovador de investimento social privado garante a continuidade das ações da fundação, independente dos interesses de marketing da empresa. Esse repasse, reconhecido internacionalmente, prevê o investimento de 1% do faturamento bruto da empresa na Fundação Orsa, independente dos resultados financeiros das empresas do grupo. Outro ponto que destaco é a equipe de profissionais extremamente capacitados e do conselho curador da fundação, que é formado pelos principais especialistas do setor social e ambiental no Brasil. Isso tudo garante a imparcialidade das ações e a ética e transparência nas atividades da organização.
11) RS – Quais as principais realizações do Grupo Orsa em 2007 e quais as metas para este ano?
SA – Em 2007, a empresa passou por investimentos que ampliaram sua capacidade instalada de produção e os resultados começaram a aparecer ainda naquele ano. Além disso, foram realizadas diversas parcerias para ampliação das ações socioambientais promovidas pela Fundação Orsa. O objetivo do grupo é continuar a promover o desenvolvimento sustentado nas regiões de atuação, gerando resultados financeiros, sociais e ambientais e disseminar seus modelos de sustentabilidade para demais áreas do país através de parcerias com órgãos públicos e privados.
Grupo Orsa: www.grupoorsa.com.br
Também nessa Edição :
Entrevista: André Franco Montoro Filho
Artigo: Água: fonte da vida
Notícia: Portas abertas para o primeiro emprego (2008/02)
Notícia: Gestão sustentável é tema de livro lançado no país
Notícia: Um clique para a educação
Notícia: O que deu na mídia (edição 48)
Notícia: Portas abertas para o primeiro emprego (2001/02)
Oferta de Trabalho: Procura-se (01/2008)
Leave a Reply