Em entrevista exclusiva, Rui Goerck, Vice-Presidente da BASF na América do Sul e Presidente do Comitê de Sustentabilidade da BASF na América do Sul fala sobre Ecoeficiência, responsabilidade social corporativa e sustentabilidade nos negócios. Leia a seguir a experiência da empresa química líder no Brasil.
1) Responsabilidade Social – As vendas da BASF totalizaram em 2006 a movimentação de recursos da ordem de 2,4 bilhões de euros. Como a empresa combina sucesso econômico e responsabilidade social?
Rui Goerck – A combinação de sucesso econômico com proteção ambiental e responsabilidade social é um diferencial da Basf, que fez a prática dos princípios do desenvolvimento sustentável integrar a sua estratégia de negócios ao incorporar aspectos de sustentabilidade no modelo de decisão dos negócios através da implementação da Matriz de Sustentabilidade.
Para tornar concreta a mensagem do pilar estratégico “Assegurar o Desenvolvimento Sustentável” nos negócios a BASF escolheu a abordagem do desenvolvimento da competência de sustentabilidade individual e organizacional.
Temos uma missão social: valorizar a cidadania por meio do comprometimento com as comunidades interna e externa, investindo recursos e conhecimento para o desenvolvimento social, respeitando a cultura e a necessidade das comunidades e do meio ambiente.
O investimento social da empresa tem foco na promoção do desenvolvimento comunitário, tendo como estratégia básica a educação, nas áreas de saúde, meio ambiente, educação e cultura, priorizando as comunidades onde a BASF atua ou possua interesse.
A Responsabilidade Social Corporativa fortalece a propagação dos princípios e valores da companhia, contribui para a construção de relacionamentos sustentáveis com nossas partes interessadas e ajuda a gerar novos negócios.
2) RS – A BASF tem uma política bem consolidada de ações sociais voltadas para comunidade externa, com foco na área ambiental. Por que a empresa decidiu trabalhar com esta frente?
RG – A BASF tem compromisso histórico com o desenvolvimento das comunidades em que atua, principalmente quanto à gestão ambiental. A empresa acredita que ao valorizar e preservar nossas riquezas naturais está contribuindo com o presente e com o bem-estar social de gerações futuras e com a sua própria sustentabilidade.
A atuação responsável da BASF tem sido reconhecida pelo mercado e premiada. Um dos atributos que diferenciam a BASF no mercado é a integração transparente e efetiva das práticas ambientais e sociais aos negócios. Reforçamos essa postura com o comprometimento com os preceitos do Global Compact, do Instituto Ethos, da Fundação Abrinq, do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e Associação Brasileira da Indústria Química, Abiquim, por meio do Programa Atuação Responsável, dentre outras entidades que somos afiliados.
A gestão ambiental da BASF é uma demonstração de como o segmento químico tem encarado o desafio de tornar-se referência em uma área considerada estratégica para a sua sustentabilidade e para o mundo. Mais do que reduzir a geração de efluentes, emissões e resíduos, a empresa atua na prevenção e minimização dos impactos ambientais das atividades produtivas. Ao mesmo tempo, disponibiliza produtos cada vez mais ecoeficientes atendendo as necessidades da sociedade e dos clientes, realiza parcerias para ampliar a conscientização ambiental com governos e organizações não-governamentais e disponibiliza tecnologia responsável, por meio da Fundação Espaço Eco. Todas essas ações são preconizadas na Agenda 21.
Não obstante a esse compromisso histórico com o tema meio ambiente, desde a década de 80 a BASF têm se dedicado também a desenvolver ações com a comunidade externa no tema educação, seja educação profissionalizante de jovens de baixa renda (como o Projeto Crescer nas localidades de São Bernardo do Campo e em Guaratinguetá), programas de educação ambiental para crianças da rede pública de Guaratinguetá (Sementes do Amanhã) e educação de ciências de uma forma mais didática e lúdica para as crianças e adolescentes também da rede pública de Guaratinguetá (Programa ReAção).
A relação com a comunidade é extremamente importante para a BASF e nós nos preocupamos em torná-la frutífera para a sociedade como um todo.
3) RS – Qual é a política de responsabilidade social interna da empresa?
RG – A BASF tem um Código de Valores e Princípios. Nossa política de responsabilidade social interna perpassa a valorização do ser humano, o investimento em capacitação, melhoria do ambiente interno, estímulo à diversidade, respeito e criação de trabalho em equipe.
Uma das diretrizes da estratégia BASF 2015 é formar a melhor equipe na indústria. Desde 2004, a intensificação da transparência e do estímulo ao diálogo levou lideranças e colaboradores no Brasil a trabalhar em conjunto na elaboração de planos de ação específicos para as diversas unidades da empresa. Essa intensa mobilização reforçou o diálogo, criou um ambiente propício para as mudanças e qualificou e motivou os colaboradores.
Estes, por sua vez, elegeram a BASF no Brasil como uma das Melhores Empresas para Trabalhar, segundo o Guia Você S/A – Exame, uma das publicações mais respeitadas do País. Entre 500 empresas analisadas, a BASF despontou como uma das 150 melhores. Em todos os países da América do Sul o diálogo é incentivado. Tanto é assim que a organização também está entre as 10 melhores para trabalhar na região, de acordo com pesquisa do Instituto Great Place to Work, com 420 mil funcionários de 1.183 empresas de nove países. Sondagens realizadas por importantes publicações na Argentina, Venezuela, Uruguai, Colômbia e Peru também reconheceram a BASF.
Essas conquistas revelam a evolução do diálogo, valorizam os colaboradores e a imagem da empresa no mercado. Uma equipe preparada, atuando em um ambiente reconhecido como um dos melhores para trabalhar, reflete positivamente na relação com os clientes. A Bússola da Liderança, instrumento global de orientação para colaboradores e gestores, também ajudou a ampliar e melhorar a qualidade dessa comunicação ao estabelecer os quatro principais direcionamentos para conduzir a empresa ao sucesso – clareza e senso de realidade; entusiasmo e inspiração; desenvolvimento e velocidade; liderança estratégica e operacional.
4) RS – A BASF criou em 2005 a Fundação Espaço Eco, o primeiro centro de excelência para Ecoeficiência aplicada na América Latina. Quais são as atividades desenvolvidas por este centro e qual a abrangência de atuação?
RG – A missão da Fundação Espaço ECO é promover o desenvolvimento sustentável na sociedade, transferindo conhecimento e tecnologia especialmente pela aplicação de soluções em ecoeficiência, educação ambiental e reflorestamento, focando o balanceamento dos aspectos sociais, ambientais e econômicos. A abrangência de sua atuação é a América Latina.
Até 2009, serão investidos cerca de quatro milhões de reais para a conclusão do projeto. A Fundação é também um dos projetos de parceria mais completos dentro da iniciativa do Pacto Global (Global Compact).
Com a Fundação Espaço ECO, disponibilizamos, em prol de empresas e de organizações, muito mais do que uma inovadora tecnologia de gestão ambiental. Nós compartilhamos o que a BASF tem de mais valios parte da experiência adquirida ao longo de mais de 140 anos.
5) RS – Entre as atividades realizadas pela Fundação está a avaliação de produtos e processo de outras empresas feito pelo modelo de ecoeficiência, ferramenta criada pela BASF. Quais são os requisitos levados em conta para um produto ser considerado ecoeficiente e como esta metodologia pode alavancar a sustentabilidade da empresa?
RG – A análise de ecoeficiência tem como base a metodologia de avaliação do ciclo de vida dos produtos e processos e está em acordo com conceitos que combinam requisitos ambientais, avanços econômicos e necessidades sociais. A inovadora ferramenta, desenvolvida pela BASF AG, é certificada pelo instituto independente TÜV na Alemanha.
Por meio do Programa Negócios Eficientes, a Fundação Espaço ECO dissemina uma ferramenta de ecoeficiência, desenvolvida pela BASF em 1996. Essa ferramenta pode alavancar a sustentabilidade das empresas ao comparar produtos e processos de acordo com a norma NBR ISO14040 – Análise do Ciclo de Vida. Os produtos que têm a ecoeficiência comprovada possuem um diferencial e podem ter ampliadas suas oportunidades locais e em novos mercados. A metodologia empregada foi desenvolvida em cooperação com a GTZ (agência do governo alemão para a cooperação internacional), baseada em um programa já aplicado em mais de 14 países. Em outras palavras, a análise possibilita agregar vantagem competitiva ao produto e às empresas que fazem uso dele.
6) Como a BASF avalia a sustentabilidade de seus próprios negócios?
RG – No Brasil, a BASF é a única indústria química a adotar a Matriz da Sustentabilidade, como uma metodologia de avaliação de suas estratégias e impactos. O trabalho teve o apoio das consultorias Atitude e Rever Consulting, em parceria com a AccountAbility, organização internacional que fornece padrões para uma contabilidade mais ética e transparente. Para avaliar a estratégia, levamos em conta tudo o que a empresa faz no aspecto social, ambiental ou de transparência e ética. Também analisamos riscos de operação, concorrência.
Entre 2004 e 2006, gerentes de departamento, diretores e vice-presidentes da BASF no Brasil passaram por treinamentos de implementação de uma metodologia que estimula o gerenciamento da sustentabilidade nos processos e nas estratégias dos diversos negócios da empresa. Trata-se da Matriz da Sustentabilidade. Em 2007 o grande desafio será iniciar o desenvolvimento da competência organizacional.
O trabalho foi concluído com o mapeamento das iniciativas sustentáveis em andamento na empresa. No total, são 216 ações incluindo processos corporativos e relacionados diretamente aos negócios. A matriz mostra que a BASF é uma empresa geradora de riqueza, conceito mais amplo que apenas o de geração de lucro. Trabalhamos pela continuidade de nossa empresa, de nossos stakeholders e do meio ambiente onde operamos. O mapeamento é o marco zero da implementação de uma das diretrizes da estratégia 2015 da empresa: assegurar o desenvolvimento sustentável.
O cruzamento das questões de negócio (como valor do negócio, receita e acesso ao mercado) com as de responsabilidade corporativa (como ética, valores e relacionamento com públicos estratégicos), permite a leitura dos pontos de concentração no mapeamento realizado com as diversas áreas.
7) RS – A BASF possui parceiros importantes como o SESI, SENAI, a GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit – GmbH, agência do governo alemão para ao cooperação internacional. Qual a importância para empresa em pode contar com estas parcerias?
RG – Acreditamos que ao fazermos parcerias sólidas, consistentes e em sintonia com os valores e princípios da BASF, temos maiores condições de sensibilizar a sociedade civil, governo, entidades de classe e empresas a se engajarem em iniciativas voltadas para a promoção do desenvolvimento sustentável. Podemos também influenciar em futuras políticas públicas que promovam bem-estar social.
Os diversos problemas sociais brasileiros não serão solucionados por um agente apenas. Por isso, é essencial a união de esforços para otimizar os resultados e ter amplitude social em nossas iniciativas. Os atores sociais juntos têm um enorme poder de transformação da realidade. A busca de parceiros sinérgicos é fundamental para que as ações tenham maior impacto, que os custos sejam reduzidos e que as experiências de uns possam ser aproveitadas por outros, aumentando a eficiência e a eficácia do trabalho desenvolvido e otimizando o sistema como um todo.
Quando pensamos em parcerias, pensamos em uma cadeia de pessoas e organizações empenhadas em solucionar os problemas sociais, econômicos e ambientais existentes. Uma cadeia composta de muitos elos, todos igualmente importantes para a eficiência do sistema.
8) RS – Somente a BASF destinou no ano passado cerca de 1,93 milhão de euros para projetos socioambientais, o que beneficiou mais de 23 mil pessoas na Américas do Sul. Como o senhor avalia o cenário brasileiro de investimento social privado?
RG – Vejo um constante amadurecimento do investimento social privado no País. O foco dos investimentos feitos pelo segundo setor tem evoluído no sentido da busca de tecnologias sociais que promovam a transformação da sociedade de forma duradoura e abrangente.
Outro sinal da profissionalização e enraizamento da responsabilidade social no meio empresarial é o grande número de institutos e fundações patrocinadas por empresas. Por exemplo, até 2006, o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) já reunia 86 associados. O Instituto Ethos já reúne mais de 1200 associados – empresas de diferentes setores e portes – que têm faturamento anual correspondente a aproximadamente 35% do PIB brasileiro e empregam cerca de 2 milhões de pessoas, tendo como característica principal o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente.
Outra tendência do investimento social privado é que faça parte da estratégia de negócios da empresa. Hoje, é fácil perceber a evolução da filantropia para práticas socialmente responsáveis que denotam um foco estratégico. Um exemplo disso é o resultado da pesquisa realizada pela ABA – Associação Brasileira dos Anunciantes – que afirma que o foco de responsabilidade social está totalmente alinhado ao objetivo estratégico para 73% das empresas e que 54% do universo pesquisado já possui ações próprias na área.
9) RS – Qual a sua visão sobre Responsabilidade Social?
RG – Para a BASF, responsabilidade social é uma competência estratégica para gerenciar os negócios junto aos diversos públicos com quem interage, baseado no seu código de Valores e Princípios e no Código de Conduta.
Acreditamos que a prática da responsabilidade social é uma maneira que as empresas têm de agregar valor aos relacionamentos travados onde possuem presença. Desta forma, temos condições de contribuir para criação de cadeia produtiva de valor e para o desenvolvimento econômico e social dos municípios onde estamos presentes.
10) RS – A BASF figura há três anos consecutivos a lista das 10 empresas-modelo do Guia Exame de Boa Cidadania? Qual a estratégia da empresa para manter este posto?
RG – A estratégia é ser fiel aos princípios e valores que a empresa divulga para o mercado. É importante que a empresa seja transparente, ética e justa em todas as relações comerciais e institucionais com suas partes interessadas. Dessa forma, a BASF passa uma imagem única para seus públicos, potencializa seus investimentos e os direciona para projetos que tenham total compromisso com a promoção do desenvolvimento sustentável.
Por atuarmos desta maneira, conseguimos ter coesão, consistência, eficiência e eficácia nos investimentos socioambientais que praticamos.
Site: www.basf.com.br
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