Ela é um dos nomes mais fortes, do Brasil e do mundo, em termos de conhecimento em voluntariado. Foi convidada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para representar o Brasil, no ano passado, durante a 57a sessão da Assembléia Geral da ONU. E não parou por aí: Milú foi escolhida para abrir a reunião, numa das raras vezes em que um membro da sociedade civil é convidado a participar de um encontro como este. O motivo de tanto prestígio? Milú Vilela mostrou a força do Brasil, em 2001 – “Ano Internacional do Voluntariado”, quando o número de voluntários no país pulou de 20 milhões para 30 milhões. Na entrevista à www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, Milú explica como começou sua paixão pelo tema, e fala, também, sobre as perspectivas do crescimento da participação da comunidade em ações sociais. Confira seus pensamentos e idéias na entrevista abaixo:
1) Responsabilidade Social – Como surgiu o seu envolvimento com o voluntariado?
Milú Villela – Comecei o trabalho na área social ainda na infância. Minha avó dirigia uma casa de apoio a crianças filhas de mães solteiras. Numa época em que as mulheres eram donas de casa, minha avó saía logo cedo e dedicava o dia a uma causa social. Isso marcou muito minha infância e, desde então, venho tentando multiplicar esse exemplo, mostrando ao maior número de pessoas que a participação de cada um de nós é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
2) RS – Qual a sua avaliação sobre a importância da participação do Brasil no Ano Internacional do Voluntário?
MV – O Ano Internacional do Voluntário foi um marco ao motivar a ação de milhões de brasileiros. O Brasil revelou grande disposição para o voluntariado, a ponto de a ONU o considerar um exemplo para o mundo. Por conta dessa mobilização, houve um amadurecimento tanto na postura e na participação do cidadão voluntário, quanto nas instituições sociais, que receberam essa energia transformadora. O reconhecimento ao Faça Parte foi tamanho, que em novembro do ano passado, fui convidada a apresentar um relatório de avaliação do Ano Internacional do Voluntariado e uma proposta de continuidade das ações do Ano Internacional na ONU. O trabalho voluntário foi considerado estratégico para o desenvolvimento social.
3) RS – Como foi a experiência de participar e representar o Brasil durante a Assembléia Geral das Nações Unidas, no ano passado?
MV – É sempre bom quando recebemos o reconhecimento pelo resultado de nossas ações. Nesta ocasião, senti um orgulho muito grande pelo fato do Brasil ter sido considerado o país onde o Ano Internacional do Voluntário teve maior repercussão. Foi uma ótima oportunidade de mostrar a todo o mundo o lado bom do nosso país, fiquei muito emocionada.
4) RS – Qual a sua avaliação sobre o Programa Nacional Jovem Voluntário Escola Solidária?
MV – Com o Programa “Jovem Voluntário Escola Solidária”, o FAÇA PARTE pretende mobilizar os jovens através do trabalho voluntário e em torno de causas sociais. Com abrangência nacional, o programa pretende atingir cerca de 80 milhões de brasileiros com menos de 25 anos de idade. Nossa parceria com MEC, CONSED e UNDIME nos permite acreditar que o convite para que cada escola desse Brasil – pública ou particular – FAÇA PARTE DO PROGRAMA JOVEM VOLUNTÁRIO – ESCOLA SOLIDÁRIA, pois as instituições de ensino, públicas e privadas, são as grandes aliadas dos jovens na formação de uma sociedade participativa e cidadã.
5) RS – A que motivos a senhora atribui o enorme sucesso e os altos índices de participação do público nas ações desenvolvidas pela ONG “Faça Parte”, da qual é presidente?
MV – Acho que a melhor ferramenta para incluir a solidariedade na cultura brasileira é a comunicação. O Ano Internacional do Voluntariado foi um sucesso no Brasil, graças ao apoio da mídia. É muito importante a divulgação dessa cultura. As pessoas acham que é muito difícil ser um voluntário. Com a mídia, podemos mostrar casos de voluntários em todas as áreas. Isso gera um retorno enorme, uns se espelham no exemplo dos outros e percebem que não há dificuldade nenhuma, basta querer.
6) RS – Quais os objetivos da “Faça Parte” em 2003?
MV – FAÇA PARTE é um convite, é uma convocação; Faça Parte é mobilização; Faça Parte é uma crença no outro; Faça Parte é um sonho coletivo que está se tornando realidade. Nossos objetivos para 2003 continuam sendo o fortalecimento da cultura do voluntariado no Brasil, de modo que cada um se sinta parte ativa na construção de uma nação socialmente mais justa. No mês de abril, lançamos uma cartilha de ‘Como os Voluntários Podem Fazer Parte do Programa Fome Zero’. O Faça Parte, tem como principal projeto o Programa Jovem Voluntário Escola Solidária. Dentro do programa algumas ações serão implementadas ainda para este ano. Estamos produzindo uma cartilha para a formação de uma “Rede de Escolas Solidárias” – um programa onde escolas trabalham em rede em beneficio do aluno, além de proporcionar uma premiação para o programa que iremos lançar oficialmente até o mês de julho, porém ainda não definimos a data.
7) RS – De que maneira é possível integrar o universo da arte e da cultura ao mundo da Responsabilidade Social? Já existe algum projeto sendo desenvolvido, neste sentido, dentro do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do qual a senhora é presidente?
MV – Tanto o MAM quanto o Itaú Cultural desenvolvem trabalhos de cunho social. Temos um trabalho muito bonito de AÇÃO EDUCATIVA. A ação educativa traz as escolas públicas que não têm acesso às exposições de arte. A dobradinha arte-educação é fundamental para envolver professores e alunos em atividades escolares, sem prejuízo algum do conteúdo curricular. A arte desperta qualidades muitas vezes desconhecidas nos alunos. Quando o professor utiliza a arte como complemento ou ilustração para sua explicação, os alunos aprendem e assimilam melhor os conceitos escolares. A arte funciona como estímulo para o ensino e é um combustível extraordinário para estimular a reflexão sobre o mundo que nos rodeia.
8) RS – A senhora acredita que o novo governo vai favorecer a atuação do Terceiro Setor e do voluntariado?
MV – A ambição social nesse novo governo deve levar em conta a participação da sociedade civil, com seus voluntários. Acredito que vivemos uma nova era, com grandes transformações, estas só são possíveis quando há articulação da sociedade civil com o poder público.
9) RS – O que a senhora entende por Responsabilidade Social?
MV – O conceito de responsabilidade social traz embutido a noção ética de que é preciso se envolver em ações que estimulam o exercício da cidadania, a participação da comunidade e a participação ativa individual. O empresariado brasileiro começou a perceber sua responsabilidade na solução dos problemas sociais e a reconhecer que o apoio a projetos sociais e de voluntariado gera um grande retorno tanto na imagem corporativa quanto na motivação de suas equipes. Hoje, para uma empresa ser socialmente responsável, gerar empregos, pagar impostos e criar produtos e serviços adequados às necessidades dos clientes, não são mais os únicos objetivos. É importante ressaltar que a responsabilidade social, embora seja um conceito muito utilizado pelas empresas, pode e deve ser aplicada a todas as esferas de nossa sociedade. Por exemplo, o hospital, pela própria natureza de seu serviço (saúde para comunidade) já pode ser considerado “responsável socialmente”, pela sua simples missão. No entanto, ele pode não estar preocupado com a questão do escoamento do lixo hospitalar e prejudicar toda a comunidade local.
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