Em entrevista exclusiva à diretora de Redação do Responsabilidade Social.com, Daniela Guima, o pensador e filósofo Mario Sergio Cortella traça um cenário da atualidade e passeia por termos como ética, moral e responsabilidade social. O encontro ocorreu em evento da N Produções, em Brasília. Para ele, esses conceitos passam longe de ser utopia e tornaram-se questões de sobrevivência para toda e qualquer empresa. Com reflexões instigantes, Cortella elogia o jeitinho brasileiro quando interpretado como flexibilidade e provoca: “quer terminar com a corrupção? Não corrompa!”. Confira os detalhes desse bate-papo que traz frescor e ânimo aos otimistas de plantão:
1) N Respostas – No país do jeitinho, como atuar com ética e moral dentro das empresas e fora delas, especialmente em negociações com a esfera governamental?
Mario Sergio Cortella – A gente pode olhar o jeitinho de dois modos: o jeitinho como flexibilidade e o jeitinho como infração ética. No caso da flexibilidade, é a condição de adaptação em situações que seriam impossíveis ou de improvável solução. Aliás, nos 200 anos de nascimento de Charles Darwin, a idéia de jeitinho entendido como flexibilidade é uma coisa extremamente positiva. Afinal, Darwin nunca disse que a sobrevivência era do mais forte. Ele disse que era do mais apto, isto é, do mais flexível. Portanto, nós não podemos demonizar aquilo que para nós é o jeitinho, pois ele também favorece parte da nossa adaptabilidade e da nossa inventividade.
Mas existe uma parte do jeitinho que é a infração ética, que é a fragilidade de princípios e, mais do que isso, a intenção de desviar de pegar atalhos, ao invés de seguir caminho que é correto, certo, socialmente admitido. Quando nós olhamos a idéia do jeitinho como infração ética, ele é extremamente negativo, porque ele enfraquece as nossas instituições, a nossa vida coletiva e mais do que isso, ele quebra as nossas pontes para um futuro mais sólido.
Por outro lado, quando a gente pensa na relação Estado – População, ou seja, Governo – Povo, é evidente que há uma tendência, quase que psicanalítica, de apontar o Estado, o poder público como sendo o guardião da ética. Mas é exatamente o inverso. A guarda da ética tem que ser feita pela população que escolhe o poder público. Isso significa que há um dado que passa pelo cinismo. Um cidadão ou cidadã que aponta o dedo em direção ao poder público, ao Governo de maneira em geral, ele mesmo produz infrações no campo da ética sem nenhum tipo de prejuízo pra convicção que ele carrega.
Há pessoas, por exemplo, que só respeitam o limite de velocidade se houver um radar. É aquela que compra produto pirata argumentando que é mais prático, especialmente porque esse produto é mais barato para ela. Mas ela retira empregos no nosso país, ela não faz contribuição tributária. Mesma pessoa que ao apontar o dedo em relação ao poder público ele, no cotidiano dele, dentro de casa, em relação às vezes à empregada que ele tem, ou na própria empresa onde ele atua, ele procura atalhos, desvios. Por isso, a ética não é uma questão de governo, a ética é uma questão de sociedade, na qual o Governo também é parte. Aí por isso, evidentemente, a gente não pode ter um Governo marcado pelo jeitinho negativo e nem uma população com essa mesma característica.
Uma vez ou outra eu vou a debates com empresários, governantes, gestores e há uma coisa curiosa. Eu vou dar exemplo numa outra área para isso ficar mais claro. É comum na área de educação professores me perguntarem: “Como que a família pode colaborar com a educação dos filhos?”. Eu digo: “Lamento, talvez você não tenha entendido. A família não colabora com a educação dos filhos, a família é responsável pela educação dos filhos. Quem colabora com a educação dos filhos é a escola”. Está havendo uma inversão.
Não é que os empresários e os gestores colaboram com a temática da ética, da lisura, da transparência – eles são responsáveis por isso por uma razão, e aí eu volto ao ponto. Quando perguntado por um empresário num debate: “Como fazer para diminuir as infrações éticas no nosso cotidiano?” Eu sempre lembro que para existir corrupto tem que haver corruptor. Se os corruptores pararem de corromper, não haverá corrupção. Ponto. Sem cinismo, sem desvios. Então, você quer terminar com a corrupção, não corrompa. Não é difícil ser honesto, é necessário. Eu como empresário, se admito o apodrecimento ético, o meu negócio perde sustentabilidade. Então, insisto: quer terminar com a corrupção? Não corrompa! Ponto.
2) NR – Aliás, o senhor concorda com o rótulo “país do jeitinho”? Qual a sua impressão sobre o empresariado brasileiro no que concerne à ética e à moral? Esse rótulo é um preconceito, ou retrata uma realidade?
MSC – Nós não somos o único país do jeitinho. A corrupção é uma presença contínua na história. Nós nunca vamos extinguir essa possibilidade porque nós somos livres. E, por isso, cada pessoa sendo livre poderá sempre praticar também o equivocado, o incorreto, o errado. Mas o que nós temos é na sociedade em geral e na brasileira, em especial, é de criar mecanismos que criem o máximo de constrangimento, de cerceamento para esse tipo de prática. Nós não somos o único país do jeitinho. A corrupção em relação ao público-privado é importada da nossa colonização. Isso é uma tradição que veio da Europa, das monarquias. Portanto, não é algo que nós tenhamos inventado.
O empresariado brasileiro tem uma grande capacidade de adaptação. Porque nós somos uma sociedade com múltiplas respostas ao modo de organizar a vida. Nós somos uma sociedade multi-étnica, multi-esportista, cada vez mais multi-religiosa. Então o “multi” está presente em nosso cotidiano. Por isso, o empresariado brasileiro de uma maneira geral, ele é capaz de uma série de movimentos e adaptações, inclusive porque nós somos uma nação muito jovem, em termos de organização e estrutura.
Quando comparados, por exemplo, aos Estados Unidos da América do Norte, que são um país mais novo do que nós. Nós fomos fundados muito antes do que os Estados Unidos. Eles têm um desenvolvimento econômico e social que é muito mais avançado do que o nosso até o momento. Nesse instante estão abalados com relação a uma série de seus fundamentos. Mas, de república em nosso país, nós temos pouco tempo. Nossa república é de 1889. Nós tínhamos estrutura escravista até 1888. Nosso Ministério da Educação é de 1930. Portanto, a nossa área que cuida da educação tem 79 anos. A nossa primeira universidade é a Universidade de São Paulo, de 1934. O que havia no Brasil antes eram faculdades. Portanto, ela tem apenas 75 anos. Você imaginar Peru, México, Bolívia, Colômbia, Argentina tinhas as suas universidades ainda no século XVI. O fato de nós termos sido uma colônia de exportação de matéria-prima durante muito tempo fez com que a gente não tivesse uma fixação.
Por outro lado, claro, esse empresariado brasileiro definido genericamente ele tem essa capacidade de flexibilização. Agora, insisto: se entendida negativamente a idéia de jeitinho, ela é ainda, mas não para sempre, mais universal.
A minha impressão sobre o empresariado brasileiro varia muito. Eu por exemplo convivo dentro do Instituto Ethos há bastante tempo, tenho atividades com o grupo Todos pela Educação que também envolve empresários, em que você tem um grupo de empresários que é absolutamente firme com relação a princípios éticos na defesa da integridade, na honestidade. E uma parcela que é aquela que supõe que ganhará no pior princípio que pode existir no mundo dos negócios que é “fazemos qualquer negócio”. Não conseguimos avaliar ainda se é uma parcela maior ou menos no empresariado. Não dá para quantificar. O Brasil foi premiado com uma diminuição do seu posicionamento no ranking mundial de corrupção. Nós há 10 anos ocupávamos o quinto lugar entre os países com o maior nível de corrupção medido pelos níveis internacionais. E hoje nós estamos no lugar 17.
3) NR – Qual a diferença entre ética e moral?
MSC – Embora as palavras tenham similitude até de origem, embora a palavra ética venha do grego, e a moral venha do latim. Ethos, em grego, até o século sexto antes de Cristo significa a morada do humano, o nosso lugar. Ethos significa a morada do humano, o lugar onde nós vivemos juntos. Isso em latim será mor, que é de onde vem morada, de onde vem habitação, que é de onde vem a palavra hábito. Então é tudo aquilo que caracteriza a nossa convivência.
Agora, do ponto de vista teórico, se faz uma distinção que hoje no mercado está consagrada de outro modo, especialmente no mercado econômico, na sociedade, que ética são os seus princípios de conduta. E moral é a tua prática. Então, por exemplo, um princípio ético de que tudo que não me pertence, não me pertence. Um ato moral é pegar ou não algo que não é meu. Então, a ética é tua concepção.
4) NR – Qual a sua compreensão pessoal do termo Responsabilidade Social?
MSC – A expressão responsabilidade social vem para nós para mostrar que a empresa tinha uma tarefa que ultrapassava o seu negócio. Isto é, que devia juntar a produtividade, a lucratividade, a rentabilidade e a competitividade também à sustentabilidade. E essa idéia de sustentabilidade, de responsabilidade social, alguns falam de responsabilidade sócio-ambiental, outros falam só em sustentabilidade social, esses termos todos têm a finalidade de dizer que uma empresa não tem a tarefa exclusiva de cuidar dela e da sua lucratividade. Ela tem uma tarefa de elevar a comunidade na qual ela se insere. Por isso que falando em responsabilidade social, ela é a empresa que, na decência do seu negócio, ela não é gananciosa. Isto é, ela tem ambição. O ambicioso é aquele que quer mais. O ganancioso é aquele que quer só para si. Toda vez que uma empresa atua na maneira que ela tenha a sua lucratividade não-tóxica, não-envenenada pelo apodrecimento ético, ela carrega níveis de elevação da comunidade na qual ela atua. E, desse ponto de vista, responsabilidade social é saber que o horizonte da empresa vai muito além do retorno imediato que ela tem.
O que nós chamamos de responsabilidade social no mundo dos cidadãos recebe o nome de cidadania. Portanto, o exercício da cidadania. Para deixar um termo do direito, a cidadania está mais ligada à pessoa física. E a idéia da responsabilidade social à pessoa jurídica. É claro que aí entra o termo da ética no mundo das organizações.
5) NR – Para além da maquiagem e do marketing que é realizado com base em ações de responsabilidade social, qual a importância de uma empresa investir nisso?
MSC – É preciso lembrar sempre que ética não é cosmética. Ou seja, não é algo que se esgote na fachada. Se uma empresa afasta a responsabilidade social, se ela não coloca a responsabilidade social como um de seus componentes de atuação numa sociedade, numa comunidade, ela perde perenidade. Isto é, ela enfraquece a sua sustentação. Até algumas décadas ela faria isso sem dificuldade alguma porque a própria sociedade civil era menos organizada, menos escolarizada, menos informada. Mas o avanço da mídia, da comunicação, da escolarização, a presença das grandes cidades com o contato com outras pessoas, fez com que houvesse hoje um nível de exigência maior por parte da cidadania em relação à postura e à presença das empresas.
E isso, inclusive com a Internet, com a capacidade de comunicação mais veloz, com as conectividades que se consegue hoje no cotidiano, com o nível de mundialização da economia, que oferece alternativas de concorrência, é claro que aquela empresa que não tiver a responsabilidade social como um dos seus pilares e a utilizar apenas como propaganda, como fachada, perderá perenidade. E, portanto, ela esgota a condição de ir em direção ao futuro. É uma questão de inteligência estratégica.
Se ela tiver inteligência estratégica, ela vai adiante. Inclusive, porque, como eu digo vez ou outra, a tarefa de uma empresa não é ir contra à comunidade na qual ela se coloca. É ela ir com a comunidade. Se ela deseja sustentação de seu futuro, ela precisa fazer isso. Não fazer é algo que ela pode escolher, ela tem o direito de não fazer, às vezes até a legislação não obriga – ainda – a fazê-la com tanto afinco. Mas ela tem o dever de procurar evitar se ela tiver inteligência estratégica.
6) Você fala muitas vezes em “ainda não alcançou”, “ainda não conseguiu”, frisando o ‘ainda’ como uma possibilidade de que o fato em questão eventualmente vai acontecer. O senhor é um otimista?
MSC – Claro, sou sim! O pessimista é um desistente. O pessimista é aquele que ao olhar a realidade faz só autópsia. Eu gosto, como um bom otimista, de fazer biópsia. A diferença é que na autópsia você identifica apenas a causa mortis, e lamenta. E eu gosto de, preocupado que estou, pegar uma coisa viva, ver o que ela tem de problema, para que ela continue viva. E por isso eu insisto que o pessimista é um desistente que, de maneira geral, se limita a caminhar pelos corredores lamentando que nada pode ser feito. Já o otimista crítico que é o que eu desejo ser, é aquele que sabe que há situações que são dramáticas, mas ela podem ser alteradas no seu processo. Eu não sou fatalista. A intenção é que a gente entenda o futuro como um inédito viável, como diz Paulo Freire – aquilo que ainda não é, mas pode ser. Ou seja, o resultado do nosso sonho. Há uma diferença entre sonho e delírio. Delírio é o que você sonha e não pode ser realizado. Um sonho tem que ter factibilidade. Se não ele é doença mental.
7) NR – Quais os principais valores que devem permear as relações nas empresas e demais instituições na sociedade?
MSC – Toda sociedade precisa ter cinco valores fundamentais para ela ser estruturada. O primeiro deles é a integridade. Isto é, não admitir a ruptura das condições que nos levam a sustentar a nossa vida coletiva. A integridade é acompanhada da idéia de sinceridade. Sinceridade é não ter duas caras. E não simular que faz algo e deseja, e não fazê-la. É ser capaz de não usar máscaras na convivência do dia a dia, e junto à sociedade. A terceira é a humildade. A palavra humilde vem do latim, de humus, que significa ‘o solo sob nós’. Isto é, estamos todos no mesmo nível como dignidade. Reconhecer as diferenças não significa elogiar as desigualdades. Homens e mulheres são diferentes, não são desiguais. Brancos e negros são diferentes, não são desiguais. Brasileiros e argentinos são diferentes, não são desiguais. A diferença é um dado histórico, social, biológico. A igualdade é um elemento ético.
O quarto deles é a pluralidade. É ser capaz de entender a diversidade como um valor positivo em relação às idéias, às possibilidades, às perspectivas. E o quinto deles é a solidariedade. A palavra solidariedade ao contrário do que alguns imaginam não vem de solidário, vem de sólido. A solidariedade é aquilo que impede que a gente estilhace a nossa convivência. Por isso, o primeiro e o último, isto é, a integridade e a solidariedade, estão conectados. Uma empresa, uma pessoa, uma comunidade que seja capaz de sustentar esses valores, ela conseguirá ter sustentabilidade. E, se ela tiver isso, a lucratividade, a produtividade, a rentabilidade e a competitividade serão justas.
8) NR – Embora não seja o caminho mais curto, diversos especialistas apontam que a governança corporativa leva as empresas a resultados mais consolidados e concretos, mesmo que a longo prazo. Qual o alcance dessa atitude em termos de rentabilidade?
MSC – Para mim, é um sinal de inteligência ser capaz de exercer a governança corporativa. Sustentabilidade e responsabilidade social acontecem naturalmente. Afinal, a renda só existe quando você tem estabilidade social.
9) NR – O senhor acredita que é possível criar uma forma de desenvolvimento sustentável que leve ao bem coletivo, em que todos ganham e são valorizados? Ou isso é utopia, tratando-se de uma sociedade cujo sistema dominante é o capitalismo?
MSC – Sim, isso sim é uma utopia e é muito bom que o seja. Thomas Morus quando criou a palavra utopia, no século XVI, era um conhecedor do grego clássico. Muita gente traduz utopia como sendo “lugar nenhum” ou como ‘impossível’. Mas topos vem de lugar, por isso a palavra utopia. Se ele quisesse dizer lugar nenhum, ou impossível, ele teria escrito atopia. Porque ‘a’, em grego, é o prefixo de negação para lugar. U, em grego, é negação para tempo. Por isso, utopia significa ainda não. E por isso eu desejo que seja uma utopia de fato. Aliás, Eduardo Galeano tem uma definição ótima de utopia, ele diz: “A minha utopia é o meu horizonte. Eu ando dois passos na direção dele e ele se afasta dois passos. Eu ando dez passos na direção dele, e ele se afasta dez passos”. Disse ele: “Eu já entendi. A minha utopia não é para eu chegar a ela, é para me impedir de parar de caminhar”. Por isso, é sim uma utopia.
Claro que é possível alcançar o desenvolvimento sustentável no capitalismo, ele precisa ser – mas só se a gente reorganizar a idéia do capitalismo tal qual ele está. Aliás, o capitalismo já está se reorganizando, ele está rompendo, ele está quebrando. Ademais vale dizer que o sapo não pula por boniteza, ele pula por precisão. Ou o capitalismo se reinventa com relação à redistribuição de renda, ao reordenamento social, ou ele não consegue ir adiante.
10) NR – É notório que a concentração de renda é uma das conseqüências do capitalismo. É prática comum trabalhar para ter mais e acumular mais. Porém, esse sistema tem se mostrado insustentável e causador de grandes desequilíbrios de renda entre a população. Ou seja, há uma dualidade entre concentração de renda versus distribuição de renda. O senhor vê alguma solução em que o capitalismo se adapte e esse paradoxo seja revertido?
MSC – Esse paradoxo é a doença. O sistema não tem isso hoje como sendo um defeito. Essa doença virou o motor do sistema. É preciso romper essa lógica. E trabalhar com uma idéia de economia que não vitime pessoas. Hoje se fala muito em exclusão, mas mais do que exclusão, o sistema tem vítimas por meio da cultura de “fazemos qualquer negócio”. E, portanto, nessa direção, é preciso a idéia de um mercado onde as pessoas possam estar produzindo aquilo que desejam e tenham liberdade, que esse mercado tenha uma organização de regulação, e essa regulação impeça o desastre. Nos últimos dez anos muitos retiraram o Estado do circuito, no neoliberalismo, e agora correm céleres em direção às tetas do Estado, para pedir o seu socorro. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos e acontece também em vários outros legados.
11) NR – Então o senhor acha que vai haver um rompimento, uma quebra do sistema tal qual o conhecemos?
MSC – Está tendo já. O fim do combustível fóssil em 30 anos muda toda a lógica da organização econômica que foi toda apoiada na indústria automobilística. Em 30 anos, sem o combustível fóssil, primeiro que vai ter que se lidar com as massas dos povos árabes que hoje não têm estrutura industrial e vivem do dinheiro do petróleo. Essas massas, daqui a 30 anos, vão viver de que? Se não criarem estrutura eles vão subir em direção à Europa. A xenofobia está crescendo nessa perspectiva. Portanto, é preciso ficar atento, porque durante cem anos se sustentou a vida do ocidente às custas do oriente. E agora, o ocidente vai deixar essas massas à míngua, como já se faz com a África? Isso é quebrar a idéia de humanidade.
12) NR – Alguns especialistas apontam que a epidemia de gripe suína teve início na ganância de criadores de porcos que desrespeitaram normas para poder aumentar a produção. O Estado precisa implementar regulamentações mais fortes?
MSC – O Estado é o agente principal, mas não é o Estado sozinho. É o Estado com a sociedade civil engajada nessa estrutura. Não haverá alternativa. Tem 100 milhões de desempregados nos Estados Unidos. Não tenho dúvida que a crise ainda vai piorar. Há uma agudização disso, cada vez maior. O fato de a gente conseguir hoje algum refresco é muito momentâneo. Nós não estamos no começo do fim. Nós estamos no fim do começo. E digo isso, sendo um otimista crítico.
13) NR – Grandes corporações são vistas como vilãs e causadoras de muitos problemas do mundo? O que fazer para controlar e regular suas atividades de forma mais eficaz?
MSC – É preciso incrementar a legislação estatal e estimular a própria parcela das corporações e do próprio empresariado que deseja seriedade, honestidade e transparência no que faz. O fato de ela ser multinacional não altera nada. Ser uma multinacional não a torna demoníaca. O que torna uma estrutura demoníaca é quando ela é deletéria, quando ela é diabólica, quando ela é maléfica, quando ela vai adiante a custa de qualquer coisa. E, por isso, a presença dos Estados, dos governos centrais é fundamental – uma vez que ele represente, de fato, a sociedade.
14) NR – Muitas das suas reflexões levam as pessoas a se questionarem sobre seus papéis na sociedade. E qual é o seu papel, qual é a sua obra, Mario Sergio Cortella?
MSC – A minha obra é repartir esperança, é repartir a idéia de que é possível e necessário fazer algo. E esse fazer algo não se fará sozinho. E eu gosto muito de trabalhar a noção daquela clássica advertência, às vezes quase desesperada: “Se ficar o bicho come. Se correr o bicho pega”. É preciso se juntar à terceira parte, que é a que vai nos salvar: “Se ficar o bicho come. Se correr o bicho pega. Mas, se juntar, o bicho foge”. Essa é minha tarefa.
Site: www.youtube.com/watch?v=89BMhivvRFE
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