O Brasil ocupa posição confortável no mercado de carbono, que movimenta bilhões por ano. O país é o terceiro do mundo em números de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), atrás somente da China e da Índia. Em relação ao potencial de redução de emissões com os projetos, o Brasil também é o terceiro, sendo responsável pela redução de 375.797.632 tCO2e, o que corresponde a 6% do total mundial.
Mesmo com alto número de iniciativas – mais de cinco mil cadastradas em alguma fase do ciclo de MDL – e grandes expectativas de crescimento, faltam no país profissionais que dominem esse modelo de mercado. É o que diz o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. “Hoje existe uma demanda mundial por profissionais que dominem esse assunto e faltam especialistas”, disse em entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social.com.
Para reverter esse cenário, a instituição realizou ontem, em São Paulo, o curso “Mercados de Carbono e o Setor de Energia”, voltado para pessoas iniciadas ou não nas questões do clima e de crédito de carbono. Na entrevista, Sales fala mais sobre a proposta do curso, do potencial de expansão desse mercado no país e como o setor elétrico será um dos principais atores no processo de redução desses gases no mundo. Acompanhe.
Responsabilidade Social – O Instituto Acende Brasil realizou ontem (04) curso intensivo voltado ao setor elétrico sobre mercado de carbono. Qual a relação entre esses dois segmentos?
Claudio Sales – Grande parte das emissões de gases de efeito estufa no mundo é resultado da utilização de fontes fósseis para geração de energia. Por isso, o setor elétrico será um dos principais atores no processo de redução desses gases no mundo. Mas, no Brasil, a história é diferente porque a matriz elétrica é altamente renovável. Mas podemos evitar a entrada de combustíveis fósseis e aumentar a entrada de renováveis na Amazônia, por exemplo.
RS – Qual foi a proposta do curso e como ele foi pensado?
CS – A proposta do curso foi atender a uma demanda crescente da sociedade por conhecimento sobre o mercado de carbono, um mercado novo, em estruturação, que carece de regulamentação. E o curso “Mercados de Carbono e o Setor Elétrico” foi construído para oferecer uma visão ampla e sistematizada de todo o funcionamento desse mercado, teoria e prática que permita às pessoas acompanhar a evolução de todos os processos.
RS – O mercado de carbono, uma fonte de renda nascida da preocupação mundial com os efeitos das mudanças climáticas, tornou-se uma possibilidade real de negócios. Somente em 2008, esse mercado movimentou US$ 120 bilhões em créditos. Para o senhor, o Brasil tem profissionais preparados para atuar nesse setor?
CS – Hoje existe uma demanda mundial por profissionais que dominem esse assunto e faltam especialistas.
RS – O senhor acredita que o profissional que domina esse mercado tem hoje um diferencial competitivo?
CS – Sem dúvida. Conhecer sobre mercado de carbono e sustentabilidade representa um diferencial para qualquer profissional e será um pré-requisito para quem quiser atuar no setor elétrico nos próximos anos.
RS – Números divulgados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia no dia 7 de janeiro deste ano apontam que o Brasil tem 5.712 projetos cadastrados em alguma fase do ciclo de projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo 2.003 já registrados pelo Conselho Executivo e 3.709 em outras fases, o que confere ao país o terceiro lugar em número de atividades de MDL, atrás da China (primeiro) e Índia (segundo lugar). Para o senhor, o que impede o Brasil de liderar esse ranking?
CS – Nossa matriz energética é limpa e baseada em combustíveis renováveis. Mais de 89% da nossa matriz elétrica é formada por fontes renováveis (hidráulica, eólica, solar e biomassa), enquanto a média mundial é 18%. Por isso, será muito difícil o Brasil liderar esse ranking. O espaço para substituição dos combustíveis fósseis é muito pequeno no nosso país. Mesmo assim, existem inúmeras oportunidades para se desenvolver projetos de redução de emissão de carbono.
RS – Como o senhor vê o mercado de carbono hoje no país? Quais os principais desafios e a oportunidades para o crescimento desse setor no Brasil?
CS – Somente em 2008, esse mercado movimentou US$ 120 bilhões em créditos. Existe uma demanda mundial por projetos de carbono que deve aumentar ainda mais nos próximos anos. O mercado de carbono ainda é muito novo e carece de regulamentação. Além disso, existem muitas dúvidas sobre o período Pós Kyoto, sobre como será o funcionamento do mercado de carbono a partir de 2012.
RS – A emissão de gás carbônico na geração de energia elétrica no Brasil cresceu 30% acima da oferta de luz entre 1994 e 2007, segundo estudo do Ministério do Meio Ambiente. O percentual de aumento supera o registrado pelo setor de transporte, o que mais queima combustíveis fósseis no Brasil. Que medidas devem ser tomadas para reduzir as emissões desse setor?
CS – O setor elétrico é o setor que menos emite gases de efeito estufa no Brasil. Isso faz com que qualquer aumento de emissão no setor elétrico pareça, percentualmente, muito grande. Ao mesmo tempo, vale salientar que o aumento registrado está diretamente relacionado à opção que o país fez de construir reservatórios menores para usinas hidrelétricas e ter uma complementaridade térmica, o que dá segurança para o sistema. Em outras palavras, o aumento das emissões se deve à complementação térmica que vem sendo implantada.
RS – Como implantar uma economia de baixo carbono num mundo que gira em torno do petróleo e de toda sua cadeia produtiva?
CS – Serão desenvolvidas novas tecnologias, inclusive para sequestro de carbono e novas fontes de energia. Um mundo de baixo carbono irá trazer enormes oportunidades para todos.
RS – Qual o seu entendimento do termo “responsabilidade social”?
CS – Hoje, responsabilidade social e sustentabilidade são palavras afins que estão transformando a economia, o modo de gerir negócios, empreendimentos. O consumidor hoje quer sentir-se um consumidor afinado com a sustentabilidade; instituições bancárias têm várias obrigações acordadas em relação às mudanças climáticas. Sustentabilidade significa ter responsabilidade social.
Instituo Acende Brasil – Tel.:(11) 3167-7773
Também nessa Edição :
Perfil: Mara Gabrilli
Artigo: Aviação mais verde
Notícia: O que deu na mídia (edição 89)
Notícia: Mercado ambiental
Notícia: Tecnologia verde
Notícia: DF entra na briga contra a exploração sexual
Oferta de Trabalho: Procura-se (02/2010)
Leave a Reply