Em entrevista ao Responsabilidade Social, Aron Cramer presidente da Business Social Responsibility (BSR), fala sobre o movimento de Responsabilidade Social Empresarial nos Estados Unidos e os efeitos da crise financeira nos investimentos sociais privados. O executivo também trata do novo “American Way of Life” e traça um panorama sobre as mudanças significativas no país com o novo presidente Barack Obama. Confira.
1) Responsabilidade Social – O que é a Business Social Responsibility (BSR) e como é financiada?
Aron Cramer – Nossa missão é clara: trabalhar com a comunidade empresarial para criar um mundo justo e sustentável. Desde 2002 a BSR trabalha com sua rede global de mais de 250 empresas associadas para desenvolver estratégias empresariais sustentáveis e soluções através de consultorias, pesquisa e colaboração inter-setorial.
Com seis escritórios espalhados na Ásia, Europa e América do Norte, BSR faz com que sua expertise em meio ambiente, direitos humanos, desenvolvimento econômico, transparência e accountability sirva para guiar empresas globais para um mundo sustentável e justo.
BSR é financiada por meio de quatro fontes principais. Em ordem de escala, obtemos dividendos de consultorias (54% do orçamento de 2009); taxas de associação de empresas conveniadas (18%), dividendos de conferências anuais (13%), doações do governo e fundações (12%); e o restante de atividades diversas. Todas as fontes de financiamento da BSR estão disponíveis em nosso website: http://www.bsr.org.
2) RS – Como você avalia o impacto da atual crise financeira internacional na responsabilidade social empresarial (RSE)? Empresas cortarão seu investimento social privado e companhias mudarão sua política social frente a novas prioridades financeiras?
AC – A maioria das companhias está mantendo seus compromissos de RSE apesar da crise atual. No entanto, duas mudanças cruciais surgiram. Primeiro, empresas estão se assegurando que seus esforços se convertam em verdadeiro valor agregado, tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente. No mundo moderno não é mais possível que empresas continuam a desenvolver ações não ligadas a sua área fim. Isso reflete uma útil maturação do mundo relacionado à RSE. Em segundo lugar, algumas companhias estão reduzindo seus esforços, especialmente àqueles negócios que estão sofrendo mais com a crise: afinal de contas, algumas companhias precisarão lutar para sobreviverem a esta crise de caráter internacional.
Nós encorajamos empresas a realizar três ações nesse “novo mundo”. Em primeiro lugar, assegurar que a sua sustentabilidade é capaz de gerar retorno financeiro. Em segundo lugar, apesar de pressões de curto-prazo, empresas devem estar intensamente focadas na sustentabilidade de longo prazo. Finalmente, esse é um momento para pensar grande. “Business as usual” não é mais tão atraente no mundo contemporâneo, portanto empresas precisam estar preparadas a responder desafios modernos, como assuntos ligados às mudanças climáticas, por exemplo.
3) RS – Como você descreveria a evolução dos ideais de RSE nos EUA nos últimos 20 anos? O quanto o mundo corporativo evoluiu nessa área?
AC – Vinte anos atrás explicávamos “porque vocês devem realizar RSE” e hoje trabalhamos com empresas no sentido de responder “como devemos realizar RSE”. Ou seja, isso marca o reconhecimento de que, nos Estados Unidos, nenhum negócio pode prosperar de maneira desconectada da sociedade. Vivenciamos também uma mudança paradigmática de uma abordagem focada na filantropia para uma na qual questões sócio-ambientais são mais e mais integradas nas estratégias empresariais e suas operações diárias.
Apesar disso, muito ainda precisa ser feito. Ainda temos grandes desafios que reforçam ainda mais a importância da RSE – mudança climática, escassez de água, violações de direitos humanos ou redução da pobreza. Até alcançarmos progressos nessas áreas, e também enquanto não assegurarmos que o mercado não falhará como aconteceu no ano passado, não teremos realizado quase nenhum avanço.
4) RS – Como o governo americano está lidando com questões de RSE? Existem incentivos para empresas socialmente responsáveis nos EUA?
AC – O governo americano tem promovido parcerias público-privadas (PPPs), freqüentemente sob um contexto político que tende a apoiar ações voluntárias ao invés de passos regulatórios. É possível que isso mude na nova gestão presidencial.
Vários estados (notadamente Califórnia e Flórida) e algumas cidades (Salt Lake City, San Francisco e Nova Iorque) têm sido líderes em assuntos ligados ao aquecimento global, por exemplo.
5) RS – Você acredita que cidadãos americanos mudarão o que se chamou “American Way of Life” em função de assuntos emergentes como aumento de preço dos combustíveis fósseis e o aquecimento global?
AC – Essa é uma questão complexa à qual os americanos têm muitas vezes se furtado a responder. Os americanos consomem mais recursos naturais que a maioria dos países. Isso é simplesmente insustentável. Mudar essa realidade não significa, necessariamente, perder o “American Way of Life”. O que isso significa é que será preciso inovar para a sustentabilidade, acabar com o desperdício e demonstrar liderança em nível global para inspirar e assistir o mundo ao redor de uma economia sustentável e pouco dependente do carbono.
6) RS – A eleição do Presidente Obama nos EUA traz esperanças de maiores investimentos num futuro de energias “limpas”. Quais são suas expectativas frente à gestão Obama no que tange o desenvolvimento sustentável? O que podemos notar como mudanças significativas se compararmos a nova administração ao governo Bush?
AC – Descontando visões políticas, geográficas ou industriais, a posse de Barack Obama foi para todos uma tremenda mudança tanto em parâmetros nacionais quanto internacionais. Se Obama conseguir ao menos cumprir algumas de suas promessas como, por exemplo, investir mais de 150 bilhões de dólares em energias limpas, lançar um programa guarda-chuva para reduzir a emissão de gases do efeito estufa em 80% e se comprometer com o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de cortar a pobreza extrema e a fome pela metade, todo o mundo corporativo responderá de imediato. Como ele mesmo disse em seu discurso de posse, “Tudo isso podemos fazer. Tudo isso nós vamos fazer”.
7) RS – Como a América Latina, e em particular o Brasil, pode se beneficiar da experiência da BSR?
AC – Nossos associados incluem uma grande companhia brasileira (Vale) e uma série de companhias que trabalham no país (Yamana Gold, ADM, General Electic). Também temos trabalhado de maneira muito próxima com o Instituto Ethos e também como o Fórum EMPRESA, uma rede hemisférica de organizações dedicadas a negócios socialmente responsáveis, a qual foi co-fundada pela BSR.
BSR trabalhou com estas companhias num número importante de questões para o Brasil e o Planeta, como o impacto do aquecimento global nos negócios.
Entre em contato: Aron Cramer – www.bsr.org
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