No próximo dia 10, o Serviço Social da Indústria (Sesi) divulgará os vencedores da 13ª edição do Prêmio Qualidade no Trabalho (PSQT), promovido pela instituição com o intuito de valorizar o esforço das indústrias na adoção de melhores práticas de gestão e na construção de um ambiente de trabalho seguro, saudável e produtivo. Ao todo, 2.703 empresas, entre micros, pequenas, médias e grandes, concorrem ao prêmio, num recorde de inscrições.
Para o gerente de Responsabilidade Social Empresarial da instituição, Alex Mansur, a partir dos dados apresentados é possível constatar que a consciência para gestão socialmente responsável está aumentando rapidamente na agenda das indústrias brasileiras e que o desafio para o próximo ano é conciliar os pilares econômico, social e ambiental de forma que passe confiança para o mercado.
Em entrevista exclusiva ao Responsabilidade Social, Mansur explica de que forma as empresas adotam políticas de responsabilidade social, como o tema evoluiu ao longo dos anos e avalia o impacto da crise financeira mundial no investimento social.
1) Responsabilidade Social – O Serviço Social da Indústria promove neste ano o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho. A partir dos dados coletados junto aos concorrentes ao prêmio, o que foi possível constatar? A responsabilidade social já chegou às agendas das empresas?
Alex Mansur – O Prêmio SESI Qualidade no Trabalho (PSQT) está em sua 13ª edição e tem como objetivo estimular a responsabilidade social empresarial da indústria brasileira tanto em relação às práticas de gestão, quanto na valorização de seus colaboradores, uma das partes interessadas, e está na essência da atuação do Sesi.
É bom ressaltar que o PSQT é aberto para a participação de micros, pequenas, médias e grandes empresas. Nesta edição, contamos com 2.703 participantes e os resultados serão conhecidos apenas em novembro. No entanto, o comportamento nos últimos anos tem-se mostrado semelhante nas últimas edições. Tanto pelos dados abaixo como no aumento da participação das indústrias, pode-se afirmar que a consciência para gestão socialmente responsável está aumentando rapidamente na agenda da indústria brasileira.
Na edição de 2007 participaram 2.416 indústrias. Desse total, 17% das participantes possuem uma política de responsabilidade social e 64% delas têm ações pontuais que podem ser consideradas como de responsabilidade social. Observa-se que possuem diretrizes gerais, mas as ações ainda não acontecem de forma planejada e sistemática.
2) RS – Na sua opinião, qual o papel das empresas hoje na sociedade?
AM – As empresas têm hoje uma grande influência na sociedade, inclusive a de contribuir para diminuição dos problemas sociais. Nesse sentido, é interessante perceber que no Brasil as indústrias que têm adotado práticas de gestão socialmente responsável acabam estendendo suas ações para projetos no entorno industrial, como forma de melhorar o relacionamento com a comunidade e outros parceiros.
No Brasil essa questão sempre foi necessária, dadas as condições sociais do país. Mas ao apresentar as informações sobre responsabilidade social em seus relatórios de sustentabilidade, as empresas têm se forçado a mensurar quais são os resultados que essas ações promovem aos beneficiários. É um passo importante, porque esses projetos deixam de ter um caráter assistencial e passam a ser tratados como projetos de desenvolvimento social. Um dos resultados que devem ser apresentados para que o país adquira o desenvolvimento sustentável é a redução das desigualdades sociais e regionais. Indicação que está incluída no Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015, documento construído pela CNI com a participação de todos os setores industriais.
3) RS – A crise econômica mundial pode comprometer o investimento social?
AM – A história mostra que com o surgimento e/ou existência de alguma crise econômica mundial ou dentro de uma empresa os primeiros cortes são realizados em projetos alinhados ao negócio principal da empresa. Será interessante analisar o comportamento e o grau de redução nos projetos realizados pelas indústrias nessa crise, uma vez que os projetos de investimento social privado desenvolvidos por elas estão inseridos em sua gestão estratégica. Mas, já se percebe um movimento das organizações do terceiro setor na preparação para redução desse investimento.
4) RS – Como o senhor avalia a evolução do tema sustentabilidade nas empresas brasileiras nos últimos dez anos?
AM – Alguns fatores colaboram para demonstrar a evolução do tema. São crescentes os números de empresas que participam do PSQT ano a ano, que aplicam ou manifestam a intenção de aplicar indicadores de responsabilidade social, que buscam aderir ao índice de sustentabilidade empresarial da Bovespa, e das empresas industriais que têm buscado se adaptar para atender exigências socioambientais de clientes e fornecedores e a evolução dos relatórios de sustentabilidade. São indicadores de que as indústrias estão buscando a sua perenidade, por demonstrar mais valor a seus acionistas e investidores por meio de uma gestão socialmente responsável.
5) RS – E no caso do SESI, houve mudança no entendimento do conceito, no objetivo, na abrangência das ações, no engajamento de colaboradores e da própria empresa?
AM – O Sesi se firmou como a instituição responsável por oferecer produtos e serviços para ajudar a indústria a enfrentar os desafios em qualidade de vida e produtividade do trabalhador da indústria. Agora, a instituição está passando por um reposicionamento, com ações voltadas exclusivamente para a indústria e seus dependentes. Um dos carros-chefes é o programa Educação para a Nova Indústria que tem por objetivo aumentar o nível de escolaridade do trabalhador da indústria. A proposta é melhorar a qualidade e elevar a escolaridade do trabalhador, a ação conjunta com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) oferece educação continuada e básica, com ênfase na Educação de Jovens e Adultos à empresa e seus trabalhadores.
Outra vertente do novo posicionamento é o programa Indústria Saudável, que tem como metas a redução do absenteísmo por causas de saúde na indústria, o aumento da adoção de práticas socialmente responsáveis, a redução do presenteísmo, (estar presente no trabalho, porém doente) e a redução dos acidentes de trabalho na indústria. Pelo programa, o Sesi reorienta a oferta de serviços de saúde, lazer e responsabilidade social empresarial, focando cada vez mais na busca de soluções que aumentem a competitividade da indústria.
Na área de responsabilidade social, o que o Sesi tem feito nos últimos anos é adaptar os programas Ação Global, Esporte Cidadania e Cozinha Brasil para serem mais uma opção para que as indústrias realizem investimento social privado em projetos que apresentem boa avaliação após sua realização.
6) RS – Qual o seu entendimento do termo “responsabilidade social”?
AM – Para disseminar o conceito de Responsabilidade Social, utilizamos o conceito da norma técnica NBD 16001 da ABNT, que incentiva uma relação ética e transparente com todas as partes envolvidas, buscando o desenvolvimento sustentável. Contudo, entendemos que a responsabilidade social é um processo de gestão empresarial, sob a ótica econômica, social e ambiental, e que deve permear todas as ações cotidianas da empresa. Isso quer dizer que para qualquer decisão tomada é necessário levar em conta suas repercussões sobre qualquer parceiro.
7) RS – De que forma o SESI atua para que as indústrias adotem programas e soluções sociais?
AM – O papel do Sesi é estimular e difundir o conceito e práticas de responsabilidade social. Promovemos fóruns e seminários com esse objetivo em todos os estados brasileiros. Além disso, o Sesi capacita equipes para que apóiem e assessorem as indústrias na concepção e adoção de suas políticas e ações.
Como as indústrias que participam do PSQT passaram a utilizar os relatórios de diagnóstico entregues a cada premiação como ferramenta de gestão, estamos continuamente aprimorando a metodologia de aplicação para aperfeiçoar o instrumento. Para isso, estamos buscando parceiros com credibilidade na temática para contribuir com conhecimento, práticas e informações, estamos com parcerias avançadas com a Bovespa, Instituto Ethos, Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), Fundação Instituto Desenvolvimento Empresarial Social (Fides) e outras entidades.
8) RS – Há algo especial nos planos da instituição para o próximo ano?
AM – Para o próximo ano estamos incentivando o aumento de oficinas, fóruns e seminários para discussão da responsabilidade social. Estamos avançando na avaliação de projetos e ações sociais para que possam cada vez mais ser utilizados como ferramenta de diagnóstico da sustentabilidade empresarial a partir das práticas no público interno industrial. O Sesi pretende oferecer à indústria ferramentas, programas e projetos que colaborem para que sua tomada de decisão seja baseada nos referencias mais modernos e atuais que tratam do tema.
9) RS – Desde quando a entidade adota políticas de sustentabilidade e responsabilidade social e quais os projetos que ela tem nesse setor?
AM – O Sesi foi criado em 1946 por empresários brasileiros com o objetivo de promover o bem estar do trabalhador da indústria e de seus familiares. Desde então, desenvolve práticas de atendimento a parceiros da indústria. Atualmente, os projetos do Sesi estão ancorados na elevação da escolaridade do trabalhador da indústria, com meta de 1 milhão de matrículas por ano em educação, e no desenvolvimento de ações que contribuam para a sustentabilidade da indústria. São trabalhos voltados à saúde preventiva, saúde e segurança do trabalhador e a promoção do esporte e da cultura no meio industrial.
É importante destacar o desenvolvimento de ações sociais para a indústria realizar seu Investimento Social Privado. Essas ações sociais podem ser os programas do Sesi como Cozinha Brasil (Alimente-se bem, em São Paulo), Ação Global, Ações de cidadania para indústria, bem como outros elaborados de acordo com o interesse de cada empresa. Mas é importante destacar que o Sesi tem buscado avaliar o impacto de cada uma dessas ações, como forma de contribuir para que o empresariado conheça o resultado das mesmas.
10) RS – Na sua avaliação, quais são os maiores desafios da indústria brasileira na área de responsabilidade social para 2009?
AM – O desafio será que a conciliação dos pilares econômico, social e ambiental na agenda empresarial gere confiança para o mercado. O que se observa é que as indústrias brasileiras que buscam conciliar esses pilares vêm obtendo maior destaque e reconhecimento, inclusive no contexto internacional.
Serviço Social da Indústria (Sesi) – Site: www.sesi.org.br – Tel.: (61) 3317-9578 / 9269
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